I Ching do Mundo da Não-Manifestação e I Ching do Mundo da Manifestação - Capítulo VIII


Capítulo VIII
I Ching do Mundo da Não-Manifestação
e
I Ching do Mundo da Manifestação





O Fio da Meada







Sexta Linha      ___  ___               O
Quinta Linha         ___  ___          I Ching
Quarta Linha                ___  ___               do
Terceira Linha       _______          Caminho
Segunda Linha      _______               do
           Primeira Linha    _______              Céu





Janine Milward



Primeiro Volume


Conceitos Fundamentais sobre I Ching, 
o Livro das Mutações



Editora Estrela do Belém




O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada





Primeiro Volume


Conceitos Fundamentais sobre I Ching, o Livro das Mutações

Janine Milward


I Ching do Mundo da Não-Manifestação
e
I Ching do Mundo da Manifestação


Janine Milward


Caro Leitor,
encontre neste Capítulo os seguintes Temas sendo abordados:


O Caminho do Céu:

De K’un, A Terra, passando por todos os filhos inter-relacionados,
até alcançar Ch’ien, o Céu

O Caminho da Terra:

De Ch’ien, o Céu, passando por todos os filhos inter-relacionados
até alcançar K’un, A Terra

Da Não-Luz à Luz e ao Retorno da Não-Luz


O Caminho do Céu e da Terra
O Fio da Meada:
K’un, A Terra, O Vazio, é ela própria O Fio da Meada, que, através do Espaço, encontra-se com Ch’ien, O Céu, O Criativo, através do Tempo.
O fio da Urdidura - o Espaço - junto com o Tempo - a Trama - vai tecendo, assim, todo o Universo...

Do Vazio à Luz:
 Os Passos no Caminho da Meditação sendo realizados através as Virtudes de cada um dos Seis Filhos do Céu e da Terra

 


O Caminho é o Vazio

Lao Tse, Capítulo 4 do Tao Te Ching

Janine Milward

O Caminho do Céu é o caminho que vai da Terra ao Céu, de K’un a Ch’ien, do Vazio à Plenitude da Iluminação, da Não-Luz à Luz, do Inconsciente ao Consciente, do Céu Anterior ao Céu Posterior.

O Caminho da Terra é o caminho que vai do Céu à Terra, de Ch’ien à K’un, da Plenitude da Iluminação ao Vazio, da Luz à Não-Luz, do Consciente ao Inconsciente, do Céu Posterior ao Céu Anterior.

Ao trilhar o seu Caminho do Céu, K’un, A Terra, A Grande Mãe, O Vazio, O Receptivo, A Não-Luz Manifestada, vai tecendo todos os seus encontros, consigo mesma, com seus Filhos até encontrar Ch’ien, O Céu, O Pai, O Criativo, A Luz... Também seus Filhos vão se encontrando entre si e com A Mãe e O Pai... Finalmente Ch’ien, O Pai, também se encontra com K’un, A Mãe, e com cada um de seus Filhos para finalmente encontrar-se consigo mesmo, terminando o ciclo de encontros da Família do Céu e da Terra... e certamente trazendo o começo da Luz Manifestada para fazer um novo ciclo acontecer..... E esse ciclo se renova a partir de Ch’ien, O Céu, trilhando o Caminho da Terra, percorrendo o caminho ao inverso.

Esse é o Caminho do Céu e da Terra na Seqüência dos Hexagramas do Céu Anterior, do Mundo da Não-Manifestação, aquilo que dá início a um novo universo manifestado.

Alcançando o extremo Vazio e
permanecendo na quietude da extrema quietude
os dez mil seres se manifestam simultaneamente
e, através disso, contemplamos o seu retorno

Lao Tse, Tao Te Ching, Capítulo 16


 

Algumas Palavras sobre o I Ching do Mundo da Não-Manifestação
 e o I Ching do Mundo da Manifestação


O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres nascem da existência
E a existência nascem da não-existência

Lao Tse, Capítulo 40 do Tao Te Ching


I Ching do Caminho do Céu ou Mundo da Não-Manifestação


No I Ching do Caminho do Céu é seguido o conceito do Mundo da Não-Manifestação, ou seja, ainda tudo deverá ser manifestado...  ainda tudo deverá ser realmente criado.  Essa criação acontecerá entre o Pai, O Criativo, sempre doando sua Linha contínua de vida infinita e iluminada e mente infinita e iluminada; e a Mãe, O Receptivo, sempre doando suas Linhas vazadas, a multiplicidade da forma da Criação!

Sendo assim, tudo começará a partir da formação dessa multiplicidade da Criação, advindo de K’un, A Mãe, A Terra, O Receptivo, o Sublime Yin... até finalmente encontrar Ch’ien, o Pai, O Criativo, O Céu, o Sublime Yang.



Os Caminhos do Céu e da Terra
O Portal entre os Mundos da Não-Manifestação e da Manifestação
A Criação


É bom que nos recordemos que existe a Linha Yang e Contínua e que traz consigo o conceito da Constância; e que existe a Linha Yin e Vazada e que traz consigo o conceito da Duração.  Esses conceitos também podem ser compreendidos enquanto Tempo e Espaço - Tempo eterno e Espaço transmutante), Espírito e Alma (sendo que a Alma é adentrada na matéria).  A Vida advém do Espírito do Tao da Criação enquanto o Tecimento desta Vida advém da Alma encarnada na matéria: a Não-Luz do Sublime Yin é acolhida pela Luz do Sublime Yang. 

Assim como acontece em toda a Criação - com o Caminho do Céu sendo percorrido por K'un, a Não-Luz, realizando os Encontros com seus Filhos até encontrar-se com Ch'ien, a Luz e com o Caminho da Terra sendo percorrido por Ch'ien, a Luz, realizando os Encontros com seus Filhos até encontrar-se com K'un, a Não-Luz - tudo acontece sempre e primordialmente no Céu Anterior, no Mundo da Não-Manifestação para então tudo poder ser manifestado através o Céu Posterior, o Mundo da Manifestação através o enlace entre o Sublime Yang e o Sublime Yin formando o Tai Chi.

Sendo assim, ao serem concluídos os Caminhos do Céu e da Terra.... Big Bang!!!!!!!!!  Nosso Universo tem seu início, saído do Vazio e adentrando a Luz e tecendo Tempo e Espaço até que, finalmente, um dia o Espaço dá lugar ao Vazio da Não-Luz e a Luz dá continuidade ao Tempo, porém sendo acolhido pelo Vazio... até que novamente, os Caminhos do Céu e da Terra sejam novamente percorridos por K'un, A Terra, o Espaço, e Ch'ien, o Céu, o Tempo e um novo Universo surja advindo da Constância do Tempo e da Duração do Espaço.


É como se pudéssemos dizer que Os Caminhos do Céu e da Terra são como um ‘Ensaio Geral’ da Criação propriamente dita, antevendo e antecriando suas manifestações porém ainda dentro do Mundo da Não-Manifestação de forma que, ao atravessar o Portal entre esses dois Mundos, toda a Criação possa efetivamente atuar sua materialização plena já dentro do Mundo da Manifestação: a Grande Peça Teatral da Vida sendo atuada no Palco do Universo e trazendo o entrelaçamento entre Sublime Yang e Sublime Yin - a Luz e a Não-Luz - através o Tempo e o Espaço realizados ao longo da vida deste mesmo Universo - os dois principais protagonistas, Ch'ien, a Luz, e K'un, a Não-Luz! 

A verdade é que somos todos Poeira de Estrelas.  E por estarmos materializados em um Planeta - nossa Mãe-Gaia -, temos a estrutura desta Terra para nos posicionar, ao mesmo tempo que temos a abobada celeste para nos cobrir com seu manto estelar: por tudo isso, é o Homem, somos nós, que realizamos a ligação entre Terra  e Céu, o Religare.

...........................

Sabemos que hoje nosso Universo já conta 13.7 bilhões de anos!  No entanto, esse ainda é um universo jovem, ainda adolescente.... tendo, portanto, bilhões e bilhões de anos ainda a serem percorridos em mesclagem de Tempo e de Espaço... até que a última estrela acabe de produzir seu combustível de Luz e de Vida e tudo se torne um grande Vazio...  A Vida, porém, jamais termina e continua infinitamente existindo no Criativo acolhido por este Vazio... até que, desta Semente do vir-a-ser de um novo universo possa alcançar sua maturação plena e realizar o Retorno da Luz!

Do Vazio à Luz e da Luz ao Vazio

Este é o Eterno Retorno que pode ser realizado entre o dia e a noite.... e entre a gestação e o começo e o final de um universo.  Não importa o Tempo e o Espaço - sempre tudo é contido dentro da interiorização absoluta do Tao.  Somente o Tao é absolutamente interiorizado e não transmuta.
......................

Vemos, portanto, que toda a Vida manifestada através o Tempo e o Espaço, através a Constância e a Duração, pode caber, inicialmente, na Mandala do Tai Chi, mesclando o Sublime Yang ao Sublime Yin; para depois fazer acontecer os Filhos do Céu e da Terra a partir do Sublime Pai e da Sublime Mãe (apresentando as Imagens do Tesouro do Espírito, do Mestre e do Tao Primordial - o Trigrama Primordial, as Três Linhas) e, em continuidade, o entrelaçamento de cada um dos componentes da Família do Céu e da Terra, realizando-se em Trigrama da Terra e em Trigrama do Céu para, finalmente, acontecerem todos através a Criação dos 64 Hexagramas (as Seis Linhas que são traduzidas em Tesouro do Espírito da Terra e do Céu, em Homem da Terra e do Céu e em Tao da Terra e do Céu), ou seja, todas as possíveis combinações para dar conta de todas as possíveis situações da Vida!

 


O Caminho do Céu
e
O Caminho da Terra


O I Ching do Caminho do Céu e da Terra é ainda pertencente ao Céu Anterior no sentido de que, em Primeira instância - ainda dentro do Caminho do Céu - , a Semente que contém o universo, a expressão da vida, indo desde K'un, a Terra, até Ch'ien, o Céu, é representante de todas as possíveis manifestações do Wu Chi, do Mundo da Não-Manifestação que irão se tornar o Tai Chi, o Mundo da Manifestação, através a Luz do Sublime Yang e a Não-Luz do Sublime Yin em seus 64 Encontros ou Hexagramas.

No momento em que K'un encontra-se com Ch'ien, após ter realizado todos os Encontros com seus Filhos e seus Filhos entre si e com seu Pai e com sua Mãe, acontece o Hexagrama T’ai, Paz, o Céu estruturando a Terra: Terra no Trigrama do Céu e Céu no Trigrama da Terra, em doce fusão..., e ainda fazendo com que o Céu realize seus Encontros com seus Filhos e finalmente, consigo mesmo, entra em cena a representação do Céu Anterior já dentro do Caminho da Terra, ou seja, a Segunda instância do Céu Anterior fazendo acontecer Ch'ien, o Céu, realizando todos seus Encontros e fazendo todos seus Filhos realizarem seus Encontros entre si e também com o Pai e com a Mãe, até finalmente alcançar a Terra, K'un, perfazendo o Hexagrama Estagnação, Terra no Trigrama da Terra e Céu no Trigrama do Céu e depois, ainda K'un, a Terra, perfazendo seus Encontros com seus Filhos e consigo mesmo, novamente trazendo a Não-Luz, o Vazio.

Tanto dentro da Semente a vir-a-ser do universo quanto dentro da representação do próprio universo advindo desta semente, ainda estaremos dentro das imagens do Céu Anterior, ou seja, a expressão do desejo da Criação já projetando a representação de todos os possíveis Encontros das Seis Linhas Yang com as Seis Linhas Yin - dos Hexagramas do Pai e da Mãe, do Criativo e do Receptivo, do Vazio, da Luz e da Não-Luz, do Céu e da Terra, de Ch'ien e de K'un.

Esta  projeção de vida dentro da semente quanto dentro do universo é ainda uma representação da Criação - um ensaio geral da Criação, digamos assim, principalmente em termos do momento em que Ch'ien entra em cena para perfazer O Caminho da Terra, ou seja, o universo propriamente dito, pronto para ser materializado e já, antecipadamente e representativamente, contando sua história desde seu Big Bang até seu Vazio pleno, através de todas as possíveis imagens formadas entre as Linhas Yang e Yin, ao longo dos Hexagramas todos, a revelação do Universo.

Sintetizando:

O Caminho do Céu é o trajeto que K'un, a Mãe, a Terra, vai realizando através todos os Encontros que vai estruturando enquanto Trigrama da Terra e acolhendo seus Filhos e o Céu, Ch'ien, e que depois vai permitindo que cada um de seus Filhos vá realizando estes mesmos Encontros até que finalmente entre em cena Ch'ien, o Céu, o Pai e seus Encontros com a Mãe e com seus Filhos até encontrar-se consigo mesmo. 

Ou seja, tudo começa com o Hexagrama de K'un, a Terra, A Mãe, O Receptivo e tudo se conclui com o Hexagrama de Ch'ien, o Céu, o Pai, 

Ainda dentro do Mundo da Não-Manifestação, todo o processo que vai do Vazio da Não-Luz, em K'un, a Terra, até a Plenitude da Luz, em Ch'ien, o Céu, cabe dentro do Caminho do Céu


K'un, A Mãe          Ch'ien, O Pai
___  ___                     _______
___  ___                     _______
___  ___                     _______
___  ___                     _______
___  ___                     _______
___  ___      os Filhos      _______



E, em movimento inverso e de acordo com a necessidade de reafirmação arquetípica de todo o processo também sendo acionado a partir do Pai, tendo que ir da Luz até a Não-Luz, e ainda dentro do Mundo da Não-Manifestação, estaremos encontrando o Caminho da Terra, que vai da Plenitude da Luz, em Ch'ien, o Céu, até o Vazio da Não-Luz, em K'un, a Terra.

Ch'ien, o Pai                  K'un, a Mãe

_______                      ___  ___
_______                      ___  ___
_______                      ___  ___
_______                      ___  ___
_______                      ___  ___
_______      Os Filhos      ___  ___



O Caminho do Céu e da Terra
sendo representado através a Mandala do Tai Chi, acolhendo o Sublime Yang,
em sua Plenitude de Luz, e o Sublime Yin, em sua Plenitude de Não-Luz:







O Caminho do Céu e da Terra
Sendo representado através o Oito do Sol, o Revirão do Sol, O Analema, o Rio Amarelo - Caminhada Aparente do Sol -
Perfazendo o Caminho entre o Limite da Não-Luz, do Inverno, e o Limite da Lua, do Verão
Esta é a maior lição que Céu proporciona à Terra - ou seja, ao Homem com sua ampliação de consciência para apreender sobre este Religare, ou seja, a ligação entre Céu e Terra:





A partir do momento em que é possível que estes Caminhos do Céu e da Terra sejam apresentados através alguma forma de Linguagem, é certo então que atravessam o Portal entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação!


Assim acontecendo, entra em cena o I Ching do Mundo da Manifestação, o Livro das Mutações que estará apresentando o Pai, o Céu, o Criativo, Ch'ien, enquanto o Primeiro Hexagrama e a Mãe, a Terra, o Receptivo, K'un, enquanto o Segundo Hexagrama.  A partir de então, todos os demais Hexagramas são introduzidos, perpassando pelas demais 62 representações de todas as possíveis circunstâncias a-virem-a-ser na Criação sob o Tao!

No momento em que adentra o Mundo da Manifestação,
é também possível que o Oráculo do Mestre do I Ching, o Livro das Mutações,
tenha tomado sua forma,
através o tecimento dos Textos do Julgamento, da Imagem e das Linhas



 

Da Imagem e da Representação para a Materialização,
do Wu Chi para o Tai Chi,
do Céu Anterior para o Céu Posterior,
do Mundo da Não-Manifestação para o Mundo da Manifestação:
I Ching do Mundo da Manifestação

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres nascem da existência
E a existência nascem da não-existência

Lao Tse, Capítulo 40 do Tao Te Ching


Sabemos que tudo aquilo que faz parte do Mundo da Não-Manifestação não faz parte da linguagem.  Sendo assim, de forma que possamos nos manifestar acerca o entrelaçamento das Linhas Yang com as Linhas Yin formando os 64 Hexagramas, as 64 Imagens Representativas da Vida, entre em cena o Tai Chi, o Céu Posterior, o Mundo da Manifestação.

Dentro do I Ching do Mundo da Manifestação - que é aquele que normalmente encontramos nas Livrarias -, vamos ver o começo do Livro das Mutações acontecendo através a figura do Sublime Yin morando nas Seis Linhas do Hexagrama, e assim formando Ch’ien, o Céu, O Pai, O Criativo.  Depois, encontraremos a figura do Sublime Yin morando nas Seis Linhas do Hexagrama, e assim formando K’un, A Terra, A Mãe, O Receptivo.  Esses são então considerados os Hexagramas Um e Dois.

Os demais Hexagramas vão seguindo, sempre acontecendo através a inversão de suas  imagens estruturadas em suas Linhas.  Finalmente, o I Ching do Mundo da Manifestação, termina com os representantes mais diretos do Pai e da Mãe - O Fogo e A Água - formando entre si, sempre em inversão das imagens estruturadas nas Linhas, os Hexagramas Após a Conclusão, de número 63, e Antes da Conclusão, de número 64.

.........  para que tudo possa recomeçar a partir dos Hexagramas 1 e 2, O Criativo e O Receptivo. 

O Eterno Retorno dentro do Mundo da Manifestação no I Ching, o Livro das Mutações, estará sempre acontecendo a partir da Luz e da Não-Luz, Ch'ien e K'un, Pai e Mãe,  como introdutores do Tai Chi, do entrelaçamento entre as Linhas Yang e as Linhas Yin e estará sempre terminando através as expressões realmente manifestadas do Espírito e da Alma encarnados, em Li e K’an, Fogo e Água, herdeiros encarnados do Criativo e do Receptivo.


Vemos, portanto, que O I Ching, o Livro das Mutações, do Mundo da Manifestação, é apresentado através Dois Livros, sendo que o Primeiro começa com os Hexagramas do Pai e da Mãe e conclui-se com os Hexagramas da Água Repetida e do Fogo Repetido, ou seja, os dois Filhos do Meio e que são herdeiros diretos do Sol advindo da Luz de Ch'ien, o Sublime Yang, e da Lua advinda da Não-Luz de K'un, o Sublime Yin.  O Segundo Livro começa com a interação entre os demais irmãos, através os Dois Filhos Mais Novos, Montanha e Lago, seguidos dos Dois Filhos Mais Velhos, Chen e Sun.  O Segundo Livro termina com a interação entre Água e Fogo, entrelaçados entre si dentre os Trigramas da Terra e do Céu, o Sol e a Lua, o Espírito e a Alma, os herdeiros diretos de Ch'ien e de K'un, do Pai e da Mãe, do Céu e da Terra.

No momento em que adentra o Mundo da Manifestação, é também possível que o Oráculo do Mestre do I Ching, o Livro das Mutações, também tenha tomado sua forma, através o tecimento de suas Linhas e seus textos respectivos.


 

A Fusão entre o Wu Chi e o Tai Chi,
Os Mundos da Não-Manifestação e da Manifestação
Em O Fio da Meada

O livro O Fio da Meada é estruturado sobre os conceitos do I Ching do Caminho do Céu ou Mundo da Não-Manifestação - e ainda dentro do Caminho da Terra, com suas imagens atuando representativamente o vir-a-ser da Criação sob o Tao - porém todo o tempo estará tratando também do I Ching do Mundo da Manifestação bem como da boa fusão que pode acontecer entre esses dois Mundos, certamente.

Para tanto, O Fio da Meada é baseado em dois livros deveras importantes:

1.     Para uma compreensão sobre as bases mais profundas do I Ching do Caminho do Céu na Seqüência dos Hexagramas do Céu Anterior ou Mundo da Não-Manifestação:

I Ching, Alquimia dos Números
Wu Jyh Cherng
Editora Objetiva - Rio, Brasil

2.     Para uma compreensão sobre as bases mais profundas do I Ching na Seqüência dos Hexagramas do Céu Posterior ou Mundo da Manifestação e, fundamentalmente, para basear e estruturar toda a Segunda Parte de o Fio da Meada onde eu descrevo toda a Família do Céu e da Terra e sua formação em 64 Hexagramas, com considerações, textos e Linhas e entreLinhas:

O I Ching, O Livro das Mutações
Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários de Richard Wilhelm
Tradução para o português de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Correa Pinto
Editora Pensamento – São Paulo, Brasil


No Prólogo de O Fio da Meada, eu dizia:

 O Fio da Meada – O I Ching do Caminho do Céu – se propõe a contar simplesmente sobre aquilo que os sábios chineses da antigüidade faziam: a observação da natureza e conseqüente compreensão da mesma e registro dessa compreensão. Dessa forma, as raízes do I Ching, O Livro das Mutações, remontam à astronomia, à mecânica celeste, à observação da natureza do céu e da terra.

O Fio da Meada se propõe, fundamentalmente, a ajudar o paciente e perseverante e estudioso leitor, a compreender o I Ching, O Livro das Mutações, por si mesmo, a ter em sua mente um instrumento de compreensão e manejo da Família do Céu e da Terra, dos Hexagramas e seus textos, das Linhas e seus textos e fundamentalmente, como tudo isso foi estruturado e organizado.

É também importante mencionar o fato de que O Fio da Meada foi realizado tanto para o leitor que já conhece e estuda o I Ching como para o leitor que ainda não conhece o I Ching, o Livro das Mutações..... Da mesma forma, tanto para aquele que procura o I Ching apenas como oráculo como para aquele que procura o I Ching como fonte de sabedoria e conhecimento da natureza do Céu e da Terra.

O I Ching, O Livro das Mutações, é a conscientização de nossa sabedoria inconsciente... Nosso inconsciente é um reservatório de sabedoria universal. Essa sabedoria foi revelada e estruturada através dos tempos pelos sábios e mestres. Dessa forma, deve ser sempre com muito respeito e elevação espiritual que devemos nos aproximar e nos fusionar com nosso mestre interior, O I Ching.
           
Como diz Wu Jyh Cherng, em seu livro abaixo mencionado, o I Ching é considerado as raízes do pensamento taoísta na China. O tronco dessa frondosa árvore é estruturado pelo Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, que contém 81 Capítulos ou poemas de Lao Tsé, o imortal mestre iluminado do Tao.
           
Ao longo de todo O Fio da Meada, o leitor encontrará fragmentos da sabedoria de Lao Tsé (extraídos do livro Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude, Editora Ursa Maior - hoje publicado pela Editora Mauad , com tradução do chinês para o português de Wu Jyh Cherng).

Dessa forma, raízes e tronco do Tao são abordados para que nós possamos nos tornar um galho dessa árvore espiritual, nos fusionando com a sabedoria do universo e buscando a realização de nosso Caminho e de nossa Virtude.

                                                                      A Autora
Janine Milward de Azevedo



 



A Criação dos Hexagramas


K’un, A Terra, O Vazio, é ela própria O Fio da Meada, que, através do Espaço, encontra-se com Ch’ien, O Céu, O Criativo, através do Tempo.

O fio da Urdidura - o Espaço - junto com o Tempo - a Trama - vai tecendo, assim, todo o Universo...

Sendo o Espaço finito e o Tempo infinito, ambos encontram-se em um breve momento de Luz e Não-Luz.... e depois retornam.

"O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância do céu e da terra
é o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros"
Tao Te Ching, Capítulo 7

"O retorno é o movimento do Caminho
A humildade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência"
Tao Te Ching, Capítulo 40


Com o surgimento dos Filhos e Filhas do Céu e da Terra, a Trama vai sendo tecida pela Urdidura, ponto após ponto, passo a passo, Hexagrama a Hexagrama, numa longa jornada a Caminho do Céu.

"O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota"
Tao Te Ching, Capítulo 4


O Caminho do Céu tem seu início em K'un, a Terra,
 e tem sua conclusão em Ch'ien, o Céu:


K’un, A Terra, A Mãe, O Vazio, O Abranger, O Receptivo, A Não-Luz Manifestada, dá início ao Baile da Família do Céu e da Terra, encontrando-se consigo mesma e assim formando o Hexagrama K’un, A Terra:


___ ___        Trigrama do Céu, a manifestação Yang e Exterior do Hexagrama
___ ___
___ ___
___ ___        Trigrama da Terra, manifestação Yin e Interior do Hexagrama
___ ___
___ ___

E assim, todos os Encontros ou Hexagramas passam a se suceder tecendo, em Trama e Urdimento, em Linhas Yang e Yin, O Caminho do Céu...
Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, a Luz, traz a conclusão do Caminho do Céu e da Terra ao encontrar-se consigo mesmo:

_______
_______
_______      Trigrama do Céu,
Manifestação Yang e Exterior do Hexagrama
_______
_______
_______      Trigrama da Terra,
Manifestação Yin e Interior do Hexagrama


Realiza-se a partir de antes da existência
Organiza-se a partir de antes da desordem
Uma árvore de grande abraço gera-se de uma fina muda
Uma torre de nove andares levanta-se
de um acúmulo de terra
Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos pés

Lao Tse, Tao Te Ching, Capítulo 64


 


O Caminho do Céu
de K'un, a Terra, a Mãe, até Ch'ien, o Céu, o Pai
perpassando por todos os Filhos:


Nossa consciência é atada à Terra, a Mãe, K'un, o lugar onde estamos.  Nossa consciência em ampliação faz acontecer a Montanha, o Mestre, Ken, a Quietude, o homem que busca sua realização dentro de seu Caminho da Iluminação e da Imortalidade ou Liberação até se tornar Homem Sagrado. 

A Terra e a Montanha realizam-se, enquanto Vida manifestada e encarnada, através a possibilidade de vida que é doada pela Água, K’an, a Água, que traz consigo a Sabedoria e vai buscando por todos os lugares. 

A vida manifestada é então não somente vivenciada pela terra, pela rocha e pela água mas também pela madeira, em Sun, o Vento, a Madeira, e esta vegetação é levada adiante pelo vento e eclode a vida, desabrocha a vida através Chen, o Trovão, o Incitar, que acaba trazendo o Fogo, Li, para a terra, ampliando a consciência do Homem que já se encontra entre o Céu e a Terra. 

Esta expansão da consciência acontece através seu espelhamento permitido por Tui, O Lago, que espelha Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, o doador da vida infinitizada e iluminada à K'un, a Terra, o Receptivo.


Os Hexagramas compostos pela Terra, A Mãe, a Não-Luz, o Vazio:

  A Terra recebe a Terra, formando K'un, O Receptivo, A Mãe, A Terra, O Devocional
A Terra recebe a Montanha, formando Po, Desintegração.
A Terra recebe a Água, formando Pi, União, Manter-se Unido
A Terra recebe o Vento, formando Kuan, Contemplação
A Terra recebe o Trovão, formando Yü, Entusiasmo
A Terra recebe o Fogo, formando Chin, Progresso
A Terra recebe o Lago, formando Ts’ui, Reunião
A Terra recebe o Céu, formando Pi, Estagnação



Os Hexagramas compostos pela Montanha, A Quietude, O Mestre:

A Montanha recebe a Terra, formando Ch'ien, Humildade
A Montanha recebe a Montanha, formando Ken, A Quietude, A Imobilidade
A Montanha recebe a Água, formando Chian, Dificuldades, Vicissitudes
A Montanha recebe o Vento, formando Ch'ien, Desenvolvimento, Progresso Gradual
A Montanha recebe o Trovão, formando Hsiao Guo, Pequeno Exagero
A Montanha recebe o Fogo, formando Lü, Viagem
A Montanha recebe o Lago, formando Hsien, Comunhão
A Montanha recebe o Céu, formando Tun, A Retirada



Os Hexagramas compostos pela Água,
O Abissal, A Lua, O Mistério, A Alma, A Sabedoria:

A Água recebe a Terra, formando She, O Exército
A Agua recebe a Montanha, formando Mon, Insensatez Juvenil, Iniciação à Educação
A Agua recebe a Agua, formando K’an, O Abismal
A Agua recebe o Vento, formando Huan, Dispersão
A Agua recebe o Trovão, formando Hsieh, Liberação
A Agua recebe o Fogo, formando Wei Chi, Antes da Conclusão
A Agua recebe o Lago, formando Kuen, Dificuldades
A Agua recebe o Céu, formando Sun, Conflito



Os Hexagramas compostos pelo Vento, A Madeira,
 a Suavidade, a Comunicação:

O Vento recebe a Terra,formando Sheng, Ascensão
O Vento recebe a Montanha, formando Ku, Deterioração
O Vento recebe a Agua, formando Djin, O Poço
O Vento recebe o Vento, formando Sun, Suavidade
O Vento recebe o Trovão, formando Hen, Constância, Duração
O Vento recebe o Fogo, formando Tin, Caldeirão
O Vento recebe o Lago, formando Ta Guo, Preponderância do Grande
O Vento recebe o Céu, formando Gou, O Encontro



Os Hexagramas compostos pelo Trovão,
O Irromper, o Insight, o Começo, o Incitar, O Inesperado:

O Trovão recebe a Terra, formando Fu, O Retorno da Luz
O Trovão recebe a Montanha, formando Yi, Satisfação da Boca, As Bordas da Boca
O Trovão recebe a Agua, formando T’un, Germinação
O Trovão recebe o Vento, formando Yee, Benefício, Aumento
O Trovão recebe o Trovão, formando Chen, Comoção
O Trovão recebe o Fogo, formando Sze Ho, Morder
O Trovão recebe o Lago, formando Suei, Seguir
O Trovão recebe o Céu, formando Wu Wang, Ausência de Falsidade, Inocência, Inesperado, Inconsciente



Os Hexagramas compostos pelo Fogo, O Aderir, A Claridade, O Sol, O Espírito, A Lucidez:

O Fogo recebe a Terra, formando Ming I, Claridade Ferida
O Fogo recebe a Montanha, formando Pi, Ornamento
O Fogo recebe a Água, formando Chi Chi, Após a Conclusão
O Fogo recebe o Vento, formando Chia Jen, A Família
O Fogo recebe o Trovão, formando Fon, Abundância
O Fogo recebe o Fogo, formando Li, O Aderir, A Lucidez
O Fogo recebe o Lago, formando Gor, Revolução
O Fogo recebe o Céu, formando Ton Zen, Companheirismo



Os Hexagramas compostos pelo Lago, A Alegria, o Espelho do Céu:

O Lago recebe a Terra, formando Lin, Aproximação
O Lago recebe a Montanha, formando Shuen, Diminuição
O Lago recebe a água, formando Chie, Limitação
O Lago recebe o Vento, formando Chun Fu, Sinceridade do Centro
O Lago recebe o Trovão, formando Gue Mei, O Casamento da Moça, A Jovem que se Casa
O Lago recebe o Fogo, formando Kuei, Discordância
O Lago recebe o Lago, formando Tui, A Alegria
O Lago recebe o Céu, formando Lü, Realização



Os Hexagramas compostos pelo Céu, O Pai, A Luz, O Criativo

O Céu recebe a Terra, formando Tai, Paz
O Céu recebe a Montanha, formando Ta Shü, O Grande Impedimento
O Céu recebe a água, formando Shu, A Esperança
O Céu recebe o Vento, formando Shiao Shu, O Pequeno Impedimento
O Céu recebe o Trovão, formando Ta Chuon, A Exuberância
O Céu recebe o Fogo, formando Ta Yio, A Grande Conquista
O Céu recebe o Lago, formando Juai, Irromper
O Céu recebe o Céu, formando Ch'ien, o Céu, O Criativo, O Pai, A Luz

 


Ao final do Caminho do Céu,
O Caminho da Terra
é realizado a partir de Ch'ien, o Céu, o Criativo, a Luz,
perpassando por todos seus Filhos
até encontrar K'un, a Terra, a Não-Luz, o Vazio.


Quando o Caminho do Céu se conclui, entra em cena o Caminho da Terra - realizado a partir de Ch'ien, o Criativo, o Céu, a Luz, perpassando por todos seus Filhos, até encontrar-se com K'un, a Terra, o Vazio, a Não-Luz.  O Caminho do Céu e da Terra ainda acontecem dentro do Mundo da Não-Manifestação.

Porém, nste momento, o Mundo da Não-Manifestação encontrou o elo, atravessou o Portal, para fazer entrar em cena o Mundo da Não-Manifestação.

No entanto, sempre estará acontecendo o Retorno

O retorno é o movimento do Caminho
A Suavidade é a atuação do Caminho
Os seres nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

Assim nos diz Lao Tse, o Mestre do Tao, em seu Capítulo 40 do Tao Te Ching.

Essas questões que tratam sobre O Retorno e sobre os Seres e a Existência e a Não-Existência, são tratadas por Lao Tse em seu Capítulo 16 do Tao Te Ching, e bem ilustram o Portal entre o Mundo da Não-Manifestação (com os Caminhos do Céu e da Terra plenamente realizados por K'un, a Terra e por Ch'ien, o Céu) e o Mundo da Manifestação (quando Ch'ien, o Céu, assume o Hexagrama 1 e K'un, a Terra, assume o Hexagrama 2; a Água, K’an,  e o Fogo, Li, assumem a conclusão da Primeira Parte, através os Hexagramas 29 e 30, respectivamente; e o entrelaçamento entre K’an, a Água e Li, o Fogo, assume a conclusão do I Ching do Mundo da Manifestação, através os Hexagramas 63 e 64, Após a Conclusão e Antes da Conclusão... quando tudo retorna a um novo começo).

Alcançando o extremo vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude
Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno.

Apesar da diversidade dos seres,
Cada um deles pode retornar à sua raiz.
O regresso à raiz se chama quietude
Quietude se chama retornar a viver
O retornar a viver se chama constância
Conhecer a constância se chama iluminação
Desconhecer a constância é a impropriedade
Que provoca o infortúnio.

Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno.

Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.

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Alcançando o extremo vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude

Assim é K'un, a Terra, o Abranger, o Vazio, o Receptivo, o Útero, o Ventre do Universo, a Mãe.  K'un, é o Fio da Meada - tanto no I Ching do Céu Anterior (quando a Não-Luz da Terra encontra-se com a Luz do Céu) quanto no I Ching do Céu Posterior (quando a Luz do Céu encontra-se com a Não-Luz da Terra).

O Céu e a Terra, Ch'ien e K'un, possuem o Sopro do Tao do Céu Anterior e por esta razão, podem e criam o Céu Posterior, o Universo, a partir do Vazio que acolhe, que abrange a Grande Luz da Criação do Tao.


Os dez mil seres se manifestam simultaneamente
E, através disso, contemplamos o seu retorno.

O retorno é o Retorno da Luz, é o Ponto de Mutação, Fu, é a Luz do Sublime Yang, do Pai, do Criativo, do Céu, que retorna, fecundando o Vazio de K'un, a Terra, a Mãe, a Não-Luz.

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Através do Retorno da Luz, Fu, surgem os Filhos do Céu e da Terra, ao mesmo tempo que trazem à luz da vida, todas suas inter-relações.


Apesar da diversidade dos seres,
Cada um deles pode retornar à sua raiz.

Surgindo para o Mundo da Manifestação, para a Roda da Vida, todos os Hexagramas, em seu grande bailado, em seu Caminho do Céu e da Terra, fazem parte da trama e da urdidura do Céu e da Terra, na busca de seu Tao, exercendo suas Virtudes.


O regresso à raiz se chama quietude
Quietude se chama retornar a viver
O retornar a viver se chama constância
Conhecer a constância se chama iluminação
Desconhecer a constância é a impropriedade
Que provoca o infortúnio.

Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo

O regresso à raiz é o reconhecimento da própria essência e a retomada ao Caminho do Céu.  O Caminho do Céu é alcançado através da quietude, do sentar-se em silêncio, em meditação, na busca da Luz que reside na plenitude do Vazio.

A Sublime Luz de Ch'ien, o Céu, mora dentro do Sublime Yin do Vazio, da Não-Luz, de K'un, a Terra.  É por isso que K'un, a Terra, o Vazio, é quem dá início ao Caminho do Céu, até encontrar Ch'ien, o Criativo, e através, dele, deixar que a plena mutação do Vazio em Iluminação e em Imortalidade possa acontecer.

As Virtudes que acompanham o Caminho do Céu são a busca da constância através da humildade.

A constância é uma Virtude do Céu e a humildade é uma Virtude da Terra.  Constância e humildade significam o encontro harmonioso entre os Sublime Yang e Sublime Yin.

E esse encontro acontece ao longo de 63 Hexagramas, mesclando o Sublime Yin ao Sublime Yang, através das imagens que se formam e dos desenhos das Linhas - contínuas e vazadas -, é extraído o Julgamento em relação à essência dos Hexagramas e os oráculos, os conselhos.


A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno.

Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.

K'un, a Terra, o Vazio, se deixa preencher pela Criação da Luz do Tao contida em Ch'ien, o Céu, o Criativo.

O Céu dá a vida à Criação, para que esta retorne ao Céu.  A partir do encontro da Terra com o Céu é que se inicia a busca pelo eterno, pelo Tao.

O encontro com o Tao é a Iluminação e a posterior Imortalidade ou Liberação.

A Iluminação, o ápice do Caminho do Céu, é a Iluminação da consciência e da vida, é o encontro com a essência do Sopro do Tao do Céu Anterior.  É o encontro com o eterno, com a infinitude da consciência e da vida.

A Imortalidade, o ápice do Caminho da Terra do Tao do Céu Anterior, é a transmutação da Iluminação da consciência e a infinitude da vida em plena realidade, ou seja, o Imortal é aquele que tem o seu corpo físico já totalmente inserido dentro de seu Corpo de Luz, de seu Corpo Solar.  E ascende, ascensiona aos Céus, totalmente iluminado em seu corpo de luz.

Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.


O homem mortal - mesmo que já tenha alcançado os primeiros degraus de sua Iluminação, com consciência iluminada e infinita - ainda perece, perde seu corpo físico, seu Caldeirão de Transmutação da matéria em espírito, de K'un a Ch'ien, da Terra ao Céu.

O homem superior, o Iluminado, já traz em si o Feto Sagrado - o desenvolvimento e o amadurecimento do Elixir da Vida -, o embrião de seu Corpo de Luz, seu vir-a-ser da imortalidade.  O Imortal é o Homem Sagrado que já processou o Feto Sagrado, amadurecendo-o até tornar-se o próprio Corpo de Luz.  Assim, o corpo físico, que servida de Caldeirão a ser reprocessado alquimicamente, transmuta-se a ponto de ser contido dentro do Corpo de Luz, construído a partir do embrião do Feto Sagrado - o Elixir da vida plenamente desenvolvido e amadurecido.

Quando o Imortal deixa a Terra, ele ascensiona - Corpo de Luz contendo o antigo corpo físico - e literalmente toma o rumo do Caminho do Céu, tornando-se o próprio Ch'ien, o Céu, o Criativo, a Luz, e plenamente adentrado em seu Vazio, em K'un, a Terra, o Receptivo, a Não-Luz.

Assim,
Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer.


Tudo o que Ch'ien, o Céu, e K'un, a Terra, realizam é fruto de não-intenção, da não-ação, o Wu Wei.

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 10 do Tao Te Ching:

O que gera e cria,
Gera mas sem se apossar,
Age sem querer para si,
Cultiva, mas sem dominar,
Chama-se “Misteriosa Virtude”.

A Misteriosa Virtude é a verdade oculta, é a humildade de K'un, a Terra, o Vazio, que gera e cria todo o Universo, para ao final do Caminho do Céu, transmutar-se em Ch'ien, o Céu, o Criativo - junto com todos os seus Filhos, sob o Tao da Criação.


Concluir o nome, terminar a obra,
Retirar o corpo - este é o Caminho do Céu

Tao Te Ching, Capítulo 9

 



Do Vazio à Luz:

 Os Passos no Caminho da Meditação sendo realizados através as Virtudes do Céu e da Terra e de cada um dos seus Seis Filhos



A busca da Interiorização e Fusão Plenas
com a Suprema Consciência

A única forma que temos de nos fusionar com a Suprema Consciência, com o Absoluto que criou O Criador e Sua Criação, é através da nossa interiorização também absoluta (que bem pode ser manifestada através de nossa meditação), fusionando nossa respiração interna e externa com a respiração do Criador, a inspiração e expiração que vão criando e re-criando os universos... bem como fusionando nosso espírito individualizado (nossa alma) ao espírito do Absoluto, a alma da Criação e do Criador.

O espaço entre o céu e a terra assemelha-se a um fole
É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação

Lao Tse, Tao Te Ching, Capítulo 77

Mas, lembre-se, Caminhante do Caminho da Bem-Aventurança, somente o Tao, Paramapurusa, a Suprema Consciência, é absolutamente interiorizado.... sempre estaremos em seu interior, e dessa forma, sempre a Suprema Consciência, Deus, é nosso interior e nosso exterior.

 

Discípulo e Mestre

O mais correto, em relação ao processo da meditação e das práticas espirituais, é, primeiramente, ser iniciado por um mestre vivo e realizado ou por um seu devido representante, um professor espiritual. E em segundo lugar, realizar o trabalho sempre sob o seu acompanhamento. A mútua confiança entre mestre e discípulo é uma questão bastante importante de ser observada.

Esses mestres nem sempre estão ainda no Caminho da Imortalidade mas atingiram o Caminho da Iluminação ou estão muito próximo dele, podendo, assim, instruir seus discípulos e os Caminhantes sob sua proteção sobre como Caminhar seus Caminhos, como vivenciar seus Caminhos e suas Virtudes.
De uma forma geral, esse mestre vivo e realizado faz parte de uma Egrégora Espiritual que atua através de uma linhagem ininterrupta de mestres ao longo dos tempos – Guruampara – como elos de uma mesma corrente estruturada pela Tradição e pelos Mestres Imortais do passado.

O Mestre é aquele que, a princípio, realizou seu Caminho por si mesmo – possivelmente por já ter entrado na encarnação com a consciência iluminada e infinita e seu Elixir da Vida preservado.

Esses Mestres deixam suas marcas bem claras através de sua sabedoria revelada e de seus exemplos, porém, normalmente, não deixam marcas de seus corpos... por terem se tornado Imortais e terem ascendido.


A Água recebe a Montanha,
formando Mon, Insensatez Juvenil, Iniciação à Educação

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Ken, a Montanha, a Quietude
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K’an, a Água, o Abismal


Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 27 do tao Te Ching:

O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele que é bom.

Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado.

Ken, a Montanha, é o Mestre.  K’an, a Água, é a Sabedoria.  Apenas que, no Hexagrama Meng, o Mestre e o Discípulo, Ken se revela através da imagem do Discípulo.  E K’an se revela através da imagem do Mestre.  Assim, este Hexagrama nos traz a Iniciação à Educação.

O Mestre, em Meng, Insensatez Juvenil, é K’an, a Água, o Perigo, os Segredos, o Desconhecido, o Profundo, Os Mistérios, a Sabedoria, o Inconsciente.  Mas quanto o Discípulo não apresenta maturidade em seus estudos, o Mestre se posiciona na Montanha e permanece em sua Quietude enquanto o Discípulo beira os Perigos abissais.

A Sabedoria da Água, K’an, é saber ir caindo, junto com o Tao, naturalmente, sobre a Terra, por sobre a Montanha, sempre buscando os lugares mais fundos, sempre fluindo, sempre em movimento descendente, formando regatos, riachos, rios, correndo em direção à planície, em K'un, a Terra.

Por isso, o Mestre permanece em seu silêncio abissal interior, no Trigrama da Terra, deixando que seu discípulo vá exercendo sua exterioridade ao mundo através de seu aprendizado, enquanto Montanha, a Quietude.  Ao mesmo tempo, o discípulo está em seu caminho de também se tornar um mestre, um dia.

Nesta inter-relação de posicionamentos, o Mestre mostra sua humildade intrínseca enquanto o Discípulo precisa buscar sua maturidade - daí a troca de Imagens!  Se acaso o Discípulo não realiza sua prática espiritual e não apresenta sua maturidade, o Mestre sai do Trigrama da Terra e assume o Trigrama do Céu e aponta para a contradição de situações entre a Montanha e a Água - a alta Montanha e a Água que flui na planície.  A Montanha, Ken, permanecerá, então, em sua Quietude, enquanto a Água, K’an, trará os Perigos apontados pelo Mestre para seu Discípulo.

A Quietude diante do Perigo pode representar a Insensatez Juvenil, para o Discípulo que não mostra maturidade em sua busca por seu Mestre.  Em relação ao Mestre, este sabe sempre como lidar com o Perigo.

Existem duas Linhas Governantes no Hexagrama Meng, Insensatez Juvenil, Iniciação à Educação: a Segunda Linha, Linha forte e Yang ocupando o lugar do meio no Trigrama da Terra, o lugar do Homem da Terra; e a Quinta Linha, Linha receptiva e Yin ocupando o lugar do meio no Trigrama do Céu, o lugar do Homem do Céu.  Vimos que ambas essas Linhas são voltadas tanto para o Mestre quanto para o Discípulo, em suas variações de posições. 

Os Trigramas Nucleares inseridos são K'un, a Terra, o Devocional, o Abnegado, o Receptivo, e Chen, o Trovão, o Incitar, o Novo Começo.  K'un, a Terra, entrelaça-se com Ken, a Montanha, fazendo com que o Mestre seja Receptivo ao seu Discípulo e na inversão dos papéis, fazendo com que o Discípulo seja Receptivo ao seu Mestre.  Chen, o Trovão, o Retorno da Luz, entrelaça-se com K’an, a Água, a Sabedoria, fazendo com que o Mestre avance em seus conhecimentos ao se tornar o professor de seu Discípulo; e, na inversão dos papéis, fazendo com que o Discípulo avance em seus conhecimentos em função dos ensinamentos do Mestre.

O Hexagrama Nuclear é Fu, o Retorno da Luz e faz parte do avanço dos conhecimentos do Mestre e do avanço dos conhecimentos do Discípulo.

(Em algum lugar, em algum livro, eu li, há muitos anos atrás, que não é somente o Discípulo que almeja encontrar-se com seu Mestre... é também o Mestre que almeja que algum Discípulo o encontre!  O avanço dos conhecimentos é concernente a ambos, Mestre e Discípulo, sem dúvida alguma).




As Horas mais recomendadas para a Meditação

                Por volta das quatro/cinco horas da manhã é a melhor hora para a meditação quando existe uma vibração sutil, espiritual, silenciosa e apaziguadora da mente. É chamada de "Brahma um’hu’rta", a hora de Brahma, a hora de Deus. No passado, todos os Yogis meditavam e realizavam suas práticas espirituais nessa hora.

Este momento é marcado por Ken, a Montanha, o Mestre sentado em seu silêncio, com suas duas Linhas iniciais do Trigrama em atitude Yin, da Não-Luz da Terra e do Homem da Terra, em suas Devoções, e com sua Linha Yang no Céu, aliançando-se com Ch'ien, a Luz; e também pela chegada de Chen, o Trovão, o Começo de um novo Ciclo.

               O momento de sentar-se no silêncio e praticar a meditação ainda revela a natureza adormecida, a escuridão da noite imperando, tudo está em repouso. Ao longo do tempo da meditação, os olhos semicerrados do Caminhante vão olhando para a noite interior de seu coração, de sua mente... enquanto algumas nuvens avermelhadas no horizonte leste passam a anunciar a vinda do Sol, o doador de Vida. Esse é um bom momento para se alcançar o Êxtase, a anunciação da Luz.

Este é o momento em que entra em cena Chen, o Trovão, através sua Linha Yang e de Luz adentrando o Trigrama composto por Linhas Yin, da Não-Luz.

              Após o ápice da meditação, o Caminhante ainda continua envolvido em seu silêncio ao mesmo tempo que passa a escutar os sons que vêm do exterior, abrindo-se para o dia que começa com o canto do galo, o alegre acordar dos passarinhos, o retorno da luz.

              Porém, também a hora do cair da tarde proporciona um bom momento para a meditação, nos preparando para nosso sono da noite e dando uma acalmada na mente após um dia de trabalho e de ação.

Este é o momento de Tui, o Lago, a Alegria, com suas duas Linhas Yang fazendo ainda parte da Luz constante do dia, Linhas da Terra e do Homem, enquanto sua única Linha Yin, da Não-Luz, já anuncia a chegada da noite, o recolhimento, a retirada, o espelhamento do Céu - que aguarda, em seguida, o Caminhante.

             Dessa forma, as horas da "virada" da noite em dia e do dia em noite são as mais adequadas para a prática da meditação. É importante se manter o estômago vazio e de se estar limpo e banhado durante a prática espiritual.

 

A Boa Postura para a Meditação

             Ao sentar-se no silêncio, o Caminhante dá início ao seu Caminhar em seu Caminho. As costas ficam eretas e as pernas dobradas entre si formando um triângulo que bem assenta o homem à terra e liga sua cabeça aos céus – são as posições de lótus ou semi-lótus.

                  O Caminhante imita A Montanha, o símbolo da plenitude da quietude do Mestre em sua meditação... realizando em si um triângulo de forma a simbolizar a Sagrada Tríade: o princípio Primordial, o Tesouro do Espírito, o Te (o Conhecimento Sagrado) e o Mestre – aquele que realiza em si mesmo o Tao e o Te, o Princípio Primordial e A Virtude, O Tesouro do Espírito.

Ken, a Montanha, é o único Trigrama que trata do Homem, dos seres e da natureza voltada para sua evolução, em eterna mutação: somos poeira de estrelas, não é verdade? Quando trazemos à tona a imagem da Montanha Repetida, Montanha no Trigrama da Terra e Montanha no Trigrama do Céu, encontraremos o Mestre sentado em seu silêncio, realizando a ligação entre terra e céu:

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                 A Montanha funde-se plenamente com a Terra, ao mesmo tempo que está solidamente estruturada ela também chega até o ponto mais alto por onde se pode andar...

                 O Caminhante sente um cordão de ouro ou prata que surge a partir de seu chacra de base, atando a cada chacra subsequente até alcançar o chacra coronário e dali se estender até o céu, fazendo com que o homem esteja todo o tempo da meditação bem laçado entre a Terra e o Céu.

                 No entanto, tudo aquilo que se sente ao longo de todo o corpo físico é o vazio, algo ôco, realmente. A mente, principalmente, deve ser sentida como plenamente vazia, como se fosse um lago cavado no alto da montanha, aguardando ser preenchido pela água benfazeja das chuvas que vêm do céu. Nesse caso, a água seria um símbolo da sabedoria divina.

A mente é imajada pela Linha Yang do Céu, em Ken, a Montanha, com suas duas Linhas Yin receptivas no acolhimento de tudo aquilo que o Mestre faz realizar na fusão entre Céu e Terra.  O vazio no alto da Montanha, pronto para acolher a Água bendita da Sabedoria divina, nos faz lembrar dois Hexagramas estruturados por Ken, a Montanha: Chien,Dificuldades, Vicissitudes, Obstrução - Água sobre Montanha - e Hsien, Comunhão, Influência, Lago sobre Montanha.

A Água sobre a Montanha, em Chien, Vicissitudes, vem mostrar as Dificuldades, as Obstruções, que o Caminhante poderá encontrar ao longo de sua Prática Espiritual, fundamentalmente através a Meditação.  Este Hexagrama aponta como o Caminhante deverá ir contornando essas situações.

O Lago sobre a Montanha, em Hsieh, Comunhão, Influência, vem mostrar a fusão entre o Vazio da mente do Caminhante com as verdades divinas que vêm até o Praticante Espiritual.


A Montanha recebe a Água,
formando Chian, Dificuldades, Vicissitudes, Obstrução

Água e Montanha possuem, ambas, movimentos descendentes.  Quando a Água cai sobre a Montanha, ela não tem onde se reunir - pois, do contrário, se pudesse, estaria formando o Hexagrama Lago sobre Montanha! -, e por esta razão, ela vai escorrendo, Montanha abaixo, desde a Sexta Linha até a Primeira Linha, até encontrar a Planície, em K'un, a Terra, o Povo, as Massas.

Ao ir descendo, rolando, escorregando Montanha abaixo, a Água vai tendo que superar obstáculos, Dificuldades, Vicissitudes, Obstruções, contornando, preenchendo os vazios, buscando sempre o lugar mais profundo para continuar seu caminho.

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___  ___          Trigrama do Céu em K’an, a Água, a Lua, O Abismal
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___  ___          Trigrama da Terra em Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre



A Água é o Abismal, é o Perigo, é o Mistério, é a Noite, é a Dormência bem como é a Sabedoria.  Enquanto a Água vai buscando seu caminho de descenso, ela encontra a Montanha sempre mantendo sua atitude de Quietude: assim é o Mestre, aquele que vai superando suas Vicissitudes, as Obstruções, através sua confiança no céu e na terra, através sua fé, sua devoção, seus conhecimentos, através sua força em ir contornando os obstáculos, com humildade e com bondade, assim como a água faz em seu caminhar.

Lao Tse nos diz em seu Capítulo 8 do Tao Te Ching:

A bondade sublime é como a água.
A água, na sua bondade, beneficia os dez mil seres sem preferência.
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Caminho.

A Montanha permanece em sua Quietude, em seu Wu Wei, na não-ação de sua Quietude e na busca de seu Vazio, em suas profundezas, através a Água que lhe penetra.  Este Vazio que é penetrado pela Água, em K’an, o Mistério, é aquilo que Lao Tse denomina de ‘lugares desprezados pelos outros’.

No Hexagrama Chian, Dificuldades, Vicissitudes, existem dois movimentos que acontecem através suas Linhas e suas Imagens: em primeiro lugar, sabemos que sempre as Linhas vão acontecendo de baixo para cima - e assim, estarão escalando a alta Montanha e estarão tendo que vencer os obstáculos para tanto.  Em segundo lugar, as Linhas indicadoras da Água têm que descer a Montanha, escalar o Hexagrama de cima para baixo, vencendo os obstáculos, da mesma forma.

Existe, portanto, a interpenetração dessas duas realidades em Chian, Obstrução, Dificuldades, Vicissitudes - as forças que vêm de baixo para cima e as forças que vêm de cima para baixo.  O encontro ou a conversão dessas forças acontecerão na Terceira Linha, aquela que faz a fronteira entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu, a Linha Yang que perfaz a cabeça, a mente do Mestre, que ‘volta-se para si mesmo e cultiva seu caráter’.

Neste Hexagrama, encontraremos a Linha Governante atuando enquanto a Quinta Linha, o Lugar do Homem do Céu, a Linha do Rei, a Linha Yang de K’an, a Água, o Perigo, a Sabedoria.  Exatamente por estar em meio ao Perigo, às Obstruções, é que a consciência iluminada por contar com seus amigos, ou seja, as Linhas Yin que fazem parte do Hexagrama, bem como a Linha Yang do cume da Montanha, a Linha que perfaz o encontro entre a Terra e o Céu, a linha do meio que busca a harmonização das Linhas descendentes em Água e das Linhas ascendentes e ascensionais do Hexagrama em si.

E também a Quinta Linha, a Governante do Hexagrama e a detentora da Lucidez diante do Perigo, é aquela que faz parte atuante do Trigrama Nuclear Superior, em Li, o Fogo, a Lucidez, o Aderir, e isso faz com que possa bem lidar com o Trigrama Nuclear Inferior, em K’an, a Água, o Perigo, a Sabedoria.

O Hexagrama Nuclear inserido é Wei Chi, Antes da Conclusão, Li, o Fogo, sobre K’an, a Água, onde todas as Linhas estão idealmente incorretas e por esta razão, tudo precisa ser superado em suas Vicissitudes, em suas Dificuldades, em suas Obstruções, de forma que o mundo retorne à ordem e que tudo possa ter um novo começo - pois que Wei Shi, Antes da Conclusão, é o Hexagrama que traz a conclusão ao I Ching do Mundo da Manifestação.



A Montanha recebe o Lago,
formando Hsien, Comunhão, Influência

A Montanha é a Quietude, é o Mestre sentado em seu silêncio.  O Lago é a reunião das Águas, e a Água é a Sabedoria que vem do Céu para nutrir, trazer vida à Terra.

O Mestre é aquele que busca o Vazio.  Este Vazio já está instaurado em sua mente, de forma que possa receber a Sabedoria advinda do Céu, através o Lago, a Alegria.  Portanto, o encontro entre Montanha e Lago traz a Comunhão.

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_______          Tui, o Lago, a Alegria, o Espelho do Céu, a Filha mais Jovem
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___  ___          Ken, a Montanha, a Quietude, o Filho mais Jovem



Esta Comunhão é realmente intensa pois que ambos os Hexagramas possuem movimento descendente e se fusionam de forma harmoniosa.... desde que o Mestre saiba trazer sua mente dentro do Vazio.  O I Ching diz:  deste modo, o sábio acolhe os homens através do vazio.

Hsien, Comunhão, também vem nos falar da doce comunhão do ideal de amor entre os seres - imajados esses seres através o Irmão mais Jovem, Ken, a Montanha, e Tui, o Lago, a Irmã mais Jovem.  E também essa Comunhão, Hsien, nos traz a mensagem de como realizarmo-nos em comunhão e influência mútua com tudo no universo.


 

O Mantra Pessoal 

Sentado em seu silêncio interior e absoluto, o Caminhante começa a entoar seu mantra essencial e pessoal, o Ista Mantra. Mantra é a palavra especial usada na prática espiritual: "man" significa ‘mente’ e "tra" significa ‘liberar’: aquilo que libera a mente de suas ataduras.

O mantra pessoal deve ser sempre ensinado pelo Mestre e pode ser transmitido através do professor espiritual ou o mestre iluminado ou no Caminho da Iluminação, inspirado pelo Mestre Imortal. São conhecimentos que passam de mestre para discípulo. Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece...

O mantra pessoal são duas pequenas palavras – uma para a inspiração e outra para a expiração – que traduzem profundamente a energia da pessoa – seu Dharma - em relação à totalidade do universo.

Esse mantra seguirá junto com o Caminhante ao longo de sua vida, durante todas suas meditações. E não apenas durante a meditação o mantra é essencial. Podemos pensar interiormente e falar intimamente nosso mantra pessoal a todo instante, todo o tempo, a cada inspiração e cada expiração, até a nossa última expiração...

Assim, o mantra deve ser pulsativo – de acordo com a respiração; ideativo – cada palavra pronunciada cria uma imagem mental a qual se refere; e vibratório – adaptado à vibração mental individual.

Tui, o Lago,  a Alegria, é também o Sorriso, é a Boca, é a Fala, é a Flor de Lótus.  Sendo assim, podemos encontrar Tui, o Lago, Repetido, realizando o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu para fazer acontecer o Mantra pessoal e interiorizado bem como o Mantra universal e exteriorizado.  Sabemos que um leve sorriso sempre deve acompanhar o Sentar-se em Silêncio do Caminhante:
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Inspiração e Expiração

              Inspirando e expirando o mantra focalizando o terceiro olho, trazemos para o interior de nossas mentes todo o conhecimento espiritual do universo que pode ser usufruído através de nossa meditação.
Seja suave e constante
usufruindo sem se apressar

Lao Tse, Tao Te Ching, Capitulo 5

Sun, o Vento, a Suavidade, a Madeira, o Penetrante, realiza a imagem da Inspiração e da Expiração.  E quando acontece Sun, o Vento, a Suavidade Repetida, encontramos a Inspiração e a Expiração podendo ser imajados pelos Trigramas da Terra e do Céu:


O Vento recebe o Vento,
formando Sun, Suavidade

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___  ___          Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, o Penetrante
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___  ___          Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, o Penetrante



Vento no Trigrama da Terra.  Vento no Trigrama do Céu.  Vento em todos os lugares.  O I Ching diz:  Ventos que se sucedem: a imagem da Suavidade Penetrante.

A Suavidade, do Vento, em Sun, possui Humildade.  Assim, o Vento, Sun, se manifesta através da Madeira, como o bambu que verga docilmente, submisso, ao Vento, Sun.

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 22 do Tao Te Ching:

Curvar-se permite a plenitude

Outro momento em que A Suavidade também tem seu lugar encontra-se no Capítulo  40 do Tao Te Ching:

O retorno é o movimento do Caminho
A Suavidade é a atuação do Caminho

Em A Suavidade, o Vento Repetido, podemos perceber a Comunicação acontecendo em todos os níveis, tanto no Trigrama do Céu quanto no Trigrama da Terra.  Por esta razão, o I Ching diz no Texto da Imagem:  Assim, o homem  superior transmite a todos suas ordens e executa seus empreendimentos.  O Penetrante do Vento faz com que estas Comunicações adentrem as mentes do povo e da corte. 

O ato de Comunicar em si - porque o Vento é aquele que espraia, espalha, leva a todos os lugares a Comunicação - advém do Trigrama Nuclear Inferior, em Tui, o Lago, a Alegria, a Boca.  O sentido das ordens e da execução dos empreendimentos advém de Li, o Fogo, a Lucidez, a Clareza, a Compreensão, o Trabalho - por Li, o Fogo, se posiciona no Sul, o Verão, o lugar do Trabalho apresentado ao mundo.


            A respiração, esse fole universal, é o Sopro Primordial, Pranah, Chi, a força vital, a energia primordial advinda do Absoluto, do Tao do Céu Anterior, do Mundo da Não-Manifestação, que existe em todo o universo e que nos é presenteada como uma benção a cada instante de nossa vida de encarnação, desde nossa primeira inspiração até nossa última expiração.

           Assim, o mantra que acompanha nossos passos durante as primeiras etapas da meditação, deve ser um mantra que nos traduza ao universo ao mesmo tempo que nos reproduza o som do universo instalado dentro de nós... a cada inspiração e com a palavra correta do mantra, trazemos a energia do universo para dentro de nós... a cada expiração e com a palavra correta do mantra, devolvemos ao universo a energia que reside dentro de nós...


O espaço entre o céu e a terra
assemelha-se a um fole
é um vazio que não distorce
seu movimento é a contínua criação

Lao Tse, Tao Te Ching, Capítulo 77

 

O Espírito e o Sopro Primordial

Ainda durante as primeiras etapas da meditação, conservando o mantra, a mente sintonizada com o chacra do Conhecimento, conservando a inspiração e expiração fluindo harmoniosamente, concretizando o Sopro Primordial, ... existe também a presença atuante da consciência real – aquela que faz parte do universo e de nós mesmos... Essa consciência é chamada de espírito.

O Espírito traz consigo a essência do Sublime Yang, O Criativo, A Luz, e a Alma, a essência do Sublime Yin, o Receptivo, a Não-Luz. A fusão de ambos forma o Tai Chi, o Mundo da Manifestação advindo da Mente Cósmica, o Tao da Criação, que espelha a Suprema Consciência, o Tao.

Ao longo da meditação, a consciência real, o Espírito, e a respiração, o Sopro Primordial, A Alma, vão formando um processo de fusionamento de tal maneira que em um determinado momento, se fusionam totalmente e se tornam Um: é o momento da Fixação, o doce momento da conscientização plena acerca do Mundo da Manifestação. Essa plena conscientização atuará como ponte para se transpassar o Portal adentrando o Mundo da Não-Manifestação, o ápice da meditação.

O corpo físico é o invólucro que abriga a Alma coletivizada ao longo da mutação do universo e das encarnações... bem como a Alma possui sua ligação eterna com o Espírito Unitário, a Mente Cósmica. No momento da meditação, a Alma dentro do corpo físico procura sua união objetivada com o Espírito para que, desta forma, o Caminhante possa bem realizar a fusão entre o Mundo da Manifestação e o Mundo da Não-Manifestação.

Também podemos compreender que o Espírito seja o fogo e o Sopro Primordial seja a água. A melhor fusão entre o fogo e a água que conhecemos é esse Planeta Terra que nos acolhe, que nos proporciona a vida acontecendo dentro da plena materialização. E por isso mesmo, a Terra é uma Estação de Trabalho e de Iluminação.

O Sopro Primordial é imajado por K’an, a Água, o Mistério, a Sabedoria, o Abismal, a Lua, o herdeiro direto da Não-Luz de K'un, a Mãe, o Receptivo, no Mundo da Manifestação.

O Sopro Primordial pode ser imajado no Trigrama da Terra e no Trigrama do Céu através K’an, a Água, Repetida:

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O Espírito, a Consciência, é imajado por Li, o Fogo, o Aderir, a Lucidez, o Sol, o herdeiro direto da Luz de Ch'ien, o Pai, o Criativo, no Mundo da Manifestação.

O Espírito, a Consciência, podem ser imajados por Li, o Fogo, no Trigrama da Terra e no Trigrama do Céu, em Li, o Fogo, Repetido :

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Podemos, inclusive, pensar que estes dois Hexagramas signifiquem momentos de ápice, de plenitude de um ciclo, de um processo: no caso da Meditação, é somente quando existe a real fusão entre o Sopro Primordial e o Espírito, é que a Meditação começa a acontecer!


Em termos de Hexagramas, esses dois Trigramas - K’an, a Água, e Li, o Fogo, atuando enquanto Sopro Primordial e Espírito, Consciência - são representativos deste momento fundamental dentro do processo da Meditação, no Trabalho Espiritual:  Chi Chi, Após a Conclusão - Fogo sobre Água, Espírito sobre Sopro Primordial - e Wei Chi, Antes da Conclusão - Água sobre Fogo, Sopro Primordial sobre Espírito, Consciência. 


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_______          Li, o Fogo, o Aderir, a Lucidez, o Espírito, o Sol, a Consciência
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___  ___          K’an, a Água, o Abismal, o Perigo, a Sabedoria, a Alma, a Lua, o Sopro Primordial


Wei Chi, Antes da Conclusão, Fogo sobre Água, Consciência sobre Sopro Primordial


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___  ___          K’an, a Água, o Abismal, a Sabedoria, a Alma, a Lua, o Sopro Primordial
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_______          Li, o Fogo, o Aderir, a Lucidez, a Consciência, o Espírito, o Sol


Chi Chi, Após a Conclusão, Água sobre Fogo, Sopro Primordial sobre Consciência


Sabemos que em Chi Chi, Após a Conclusão, Água sobre Fogo, K’an sobre Li, Alma sobre Espírito, encontramos as Seis Linhas em seus posicionamentos ideais: é o Hexagrama que possui a composição ideal das Linhas e isso significa o auge, o apogeu, a completude das situações acontecidas no Mundo da Manifestação.  Esta completude, dentro da Mutação, I, faz acontecer a desagregação do todo, do tudo e do nada, ou seja, tudo novamente tem seu começo e esse começo já é anunciado em Wei Chi, Antes da Conclusão, ou seja, o Hexagrama onde todas as Seis Linhas estão idealmente incorretas! 

No entanto, é exatamente a desordem do posicionamento ideal das Linhas que fará que o mundo da manifestação seja renovado e tudo novamente busque por sua ordem final - vista em Chi Chi, Após a Conclusão, o Hexagrama que traz todas as Linhas em seus posicionamentos idealmente corretos.

Em ambos os Hexagramas - Wei Chi e Chi Chi, Antes da Conclusão e Após a Conclusão - estaremos encontrando o bom fusionamento entre Sol e Lua, entre Li, o Fogo, e K’an, a Água, e sabemos que ambos os Filhos do Meio são os herdeiros diretos da Luz de Ch'ien, o Céu, o Criativo, e da Não-Luz de K'un, a Terra, o Receptivo.  Em nível mais elevado, veremos Li, o Fogo, podendo imajar o Espírito advindo de Ch'ien, o Pai (que por sua vez herda do Tao da Criação) e veremos K’an, a Água, podendo imajar a Alma advinda de K'un, a Terra (que, por sua vez, é o Vazio instalado na Vida eterna e iluminada).

Por tudo isso, podemos ver que existe, tanto no mundo da manifestação quanto no mundo da não-manifestação, o bom fusionamento entre Sol e Lua, entre Espírito e Alma, e tudo sempre se encontra em Mutação, I, o que faz com que Após a Conclusão, Chi Chi - quando tudo alcança  a ordem manifestada pelas Seis Linhas idealmente corretas - seja seguido por Antes da Conclusão, Wei Chi, quando a desordem manifestada pelas Seis Linhas idealmente incorretas busquem por suas novas ordens, abrindo uma nova vida manifestada, com tudo sempre recomeçando através os Hexagramas Criativo e Receptivo, no I Ching do Mundo da Manifestação.

Wei Chi, Antes da Conclusão, é a imagem do Sol sobre a Terra ou a Água, sobre a terra e sobre os mares: é o Sol que nasce e o Sol que se põe.  Quando nasce, caminha até o meio do céu, o zênite, e então se dirige para o seu poente, no oeste.   Quando se põe, está deixando de brilhar sobre a terra, dando lugar à Lua, à Noite... indo brilhar no outro lado da Terra.

Assim são Li, o Fogo, sobre K’an, a Água.  Li, o Fogo, representa o Sol e K’an, a Água, representa a Lua.  Li, o Fogo, mora no Sul, é o Verão, enquanto K’an, a Água, mora no Norte, é o Inverno - isso dentro do Mundo da Manifestação.  Ambos vieram do Mundo da Não-Manifestação fazendo parte do Leste, da Primavera, e do Oeste, do Outono.  Por isso, fazem parte de todo o caminhar do Sol ao longo do dia e da Lua ao longo da noite!

Li, o Fogo, é o Aderir e é a Filha do Meio que ocupa o lugar do Pai, Ch'ien, o Céu.  A luz de Li, o Fogo, existe quando existe algo, na materialização, que a faça Aderir.  A Luz do Sublime Yang, de Ch'ien, o Céu, é, no entanto, constante.

Kan, a Água, é o Abismal e é o Filho do Meio que ocupa o lugar da Mãe, K'un, a Terra.  Água e Terra são sinônimos de Vida.  Porém, a Terra possui a Duração.

Lao Tse, em seu Capítulo 7 do Tao Te Ching,  nos diz que

O céu é constante e a terra é duradoura.
O que permite a Constancia e a duração do céu e da terra,
É o não criar para si.
Por isso são constantes e duradouros.

Assim, Chi Chi, Depois da Conclusão, e Wei Chi, Antes da Conclusão - os Hexagramas que trazem as Imagens dos Trigramas do Fogo e da Água, do Sol e da Lua, do Espírito e da Alma.., encerram o Tratado das Mutações, o I Ching do Mundo da Manifestação, do Céu Posterior - dando lugar a um novo começo,   seja em que dimensão for.

Wei Chi, Antes da Conclusão, o último dos 64 Hexagramas do I Ching do Mundo da Manifestação, aconselha ao homem superior a Lucidez, Li, o Fogo,  e  a Percepção, K’an, a Água,  em sua jornada em busca de seu Tao.  A Lucidez está no Trigrama do Céu e pertence mais ao Mundo da Manifestação enquanto a Percepção está no Trigrama da Terra e pertence mais ao Mundo da Não-Manifestação. 

O Espírito está trabalhando sua ascensão espiritual, sua libertação da materialização inexorável através da Roda da Vida.  o Espírito está trabalhando sua exteriorização, em Li, o Fogo.

A Alma está trabalhando sua materialização, sua encarnação, sua interiorização, em K’an, a Água.

Olhos e ouvidos atentos - Li e K’an, Fogo e Água.  Assim, o homem superior pode caminhar em sua Virtude em direção à iluminação, no Caminho do Céu.

Em termos do Hexagrama Chi Chi, Após a Conclusão, todas estas questões acontecem ao inverso.

Daí, a fusão entre a Terra e o Céu manifestada através o entrelaçamento entre K’an, a Água, o Sopro Primordial, a Alma,  e Li, o Fogo, a Consciência, o Espírito.  Essa fusão faz acontecer A Fixação: o patamar para a realização da verdadeira Meditação.




A Fixação

Não podemos nos esquecer de que nossa Sadhana – a Meditação e o Trabalho Espiritual – requer um esforço grande, perseverança, trabalho aliado à alegria. E certamente tudo isso requer um grande tempo para realmente poder acontecer, de forma que o Caminhante consiga, em dado momento, sentir que a meditação começa a acontecer de forma mais simples, mais sem esforço o Caminhante consegue se ver livre dos pensamentos que o acometem durante os primeiros passos da meditação, das dores no corpo, nas pernas cruzadas, na coluna que precisa se manter ereta..., e fundamentalmente, da preguiça...

Lao Tsé nos diz em seu Capítulo 64 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, que

...uma longa jornada começa com o primeiro passo...

O Caminhante, então, se permite atravessar semanas, meses, anos, e até décadas, buscando a melhor interação entre sua postura correta, a correta inspiração e a correta expiração, a entoação correta do mantra pessoal, a focalização no Terceiro Olho, a ponta da língua tocando o céu da boca ao mesmo tempo que um vago sorriso permanece na boca e os olhos ficam semi-cerrados, quase fechados, porém quase.... ficam levemente abertos, deixando o branco aparecer um pouquinho (porque as pupilas estarão voltadas para o alto, para o ponto entre as sobrancelhas, o chacra do conhecimento).

Quando todo esse processo realmente acontece corretamente e o Caminhante não se vê envolvido por seus pensamentos mas apenas voltado para a sua plenitude de interiorização – e muito tempo se leva para alcançar todas essas dádivas – acontece o início da fusão do coração com a respiração!
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Compreendemos, então, que o coração se transubstancia em Espírito que por sua vez advém do Espírito da Mente Cósmica.... E compreendemos que nossa respiração transubstancia-se em Sopro Primordial, o Pranah, o Chi – a força vital que reina na Criação – e a sustenta!

Esses são, então, o Espírito e a Alma. A Consciência e o Sopro Primordial.

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            Li, O Fogo, a Consciência                K’an, a Água, o Abismal, a Sabedoria


            Não nos esqueçamos que o Mundo da Não-Manifestação é um estado puro de onde se origina a Criação advinda do Mundo da Manifestação. Ao surgir a manifestação dos primórdios da Criação, com ela se objetiva a Mente Cósmica. Assim, a Mente Cósmica é uma objetivação para agir e nomear a Suprema Consciência dentro do Mundo da Manifestação... surge Brahma, a Consciência Cósmica, literalmente "O Grande".  Sob o Tao, podemos nomear essa Consciência Cósmica como o Rei Celeste.

Existe, então, o Mundo da Não-Manifestação, Nirguna Brahma ou Wu Chi– a Consciência Cósmica não-manifesta – que faz nascer o Mundo da Manifestação, Saguna Brahma ou Tai Chi – a Consciência Cósmica manifesta.

Brahma desmembra-se em dupla qualidade manifestada através de sua própria consciência objetivada em Eu Sou: Purusa. E através de sua capacidade, potencial ou objetiva, de manifestar sua capacidade de expressão: Prakrti, a energia cósmica.

Se retornarmos ao Capítulo O Tao e a Criação do Céu e da Terra,  veremos que o Sublime Pai gera toda a Criação trazendo a Luz da Vida através de seu sentar no Vazio, colocando-se no Revirão entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação e assim propiciando a Sublime Mãe criar e re-criar a Não-Luz em toda a Criação, o universo, preenchendo os buracos do céu com estrelas e moldando seus filhos, tudo sempre a partir do barro....

A Luz gerada por Purusa em sua consciência objetivada, o Sublime Yang, traz a vida a tudo aquilo que Prakrti, o Sublime Yin, molda em sua energia cósmica: a Criação.

Assim, o Sublime Yang, a Luz, manifesta o Rei Celeste ou Brahma como sua consciência objetivada em Eu Sou, Purusa, trazendo a Luz da Vida para a Criação que o Sublime Yin, a Não-Luz manifesta através de sua capacidade de expressão e seu princípio operativo, a energia cósmica, Prakrti, a Mãe Misteriosa.

            Poderíamos, também, compreender que Tempo, Sublime Yang, Espírito, seriam outras formas de expressar Purusa, o Rei Celeste, a consciência objetivada dentro do Mundo da Manifestação, a geração e doação da Luz e da Vida.

            Da mesma forma, poderíamos, também, compreender que Espaço, Sublime Yin, Alma, seriam outras formas de expressar Prakrti, a Mãe Misteriosa, o princípio operativo da Criação através de sua energia cósmica dentro do Mundo da Manifestação, a criação da Vida através da Não-Luz.
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Dentro da meditação, a fusão entre o Espírito e o Sopro Primordial, a Alma, acontece assim como se fôssemos a própria Terra vivente dentro de nós, a totalidade do universo, a sublime fusão entre o Mundo da Manifestação e o Mundo da Não-Manifestação através de sua expressão de Criador e Criação: essa é a Fixação.

Não tenha dúvida, Caminhante: a Fixação pode ser compreendida na teoria porém só pode ser realmente sentida em sua plenitude na verdadeira prática! Assim, quando a Fixação chegar até você... acredite nela. E não somente acredite nela, sinta-a profundamente, leve até seu cérebro e lá grave as impressões verdadeiras sobre este novo sentimento e esta nova sensação que lhe invade o Corpo e a Alma e o Espírito e o Ego! Grave a Fixação em seu coração.

E saiba: somente através a Fixação é que tem início a verdadeira meditação! E esse é um longo processo, demorou bastante tempo e lhe rendeu muito trabalho espiritual, certamente. A Fixação é um presente do céu!
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Assim, o Espírito e o Sopro Primordial, a Alma, se tornam um só corpo doador de vida. O sentimento de se alcançar a Fixação é supremo, quase valendo como a chegada até o Êxtase espiritual. E por que?

- O momento da Fixação é fundamental para que a meditação possa ter seu verdadeiro início!

Apenas quando nos tornamos a verdadeira fusão entre o Espírito e o Sopro Primordial, entre o fogo e a água, entre o Espírito e a Alma, entre o tempo e o espaço, entre a Luz e a Não-Luz da Criação..., é que finalmente estamos prontos para a verdadeira meditação.

O passo seguinte será o de irmos gradualmente tentando, a cada dia de prática na meditação, alcançarmos novamente e ‘segurarmos’ a Fixação, esse doce sentimento de estarmos penetrando no nada...

A princípio, sentimos a Fixação apenas como se fosse um milésimo de segundo nos perpassando e nos adentrando no Vazio... Depois de algum tempo, ou de bastante tempo, vamos conseguindo aumentar mais e mais o tempo da Fixação.



O Vento recebe o Fogo,
formando Ting, O Caldeirão


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_______          Li, o Fogo, o Aderir, a Lucidez, o Sol, o Espírito
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___  ___          Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, o Penetrante



Em Ting, o Caldeirão, existe o Fogo e a Madeira e o Vento, fazendo com que estes realizem a transmutação dos alimentos que serão servidos aos seres e aos deuses em utensílios próprios para tanto.  O alimento servido tanto pode ser objetivo quanto pode ser subjetivo - pois que o Caldeirão pode conter ambos, ou seja, o alimento da Terra e o alimento do Céu.

Neste Hexagrama, através suas Linhas, existe o processo de limpeza do Caldeirão - sendo que as Linhas Quinta e Sexta, Linhas do Rei e do Sábio, aqueles que possuem a consciência iluminada, já apresentam o Caldeirão pronto para ser usado, em todas suas formas de doação de alimento.

Quando o homem está em processo de realização de seu Caminho da Iluminação e da Imortalidade, ele pode ser representado como um Caldeirão: seu corpo físico é o próprio Caldeirão que estará sofrendo as mutações da mente em consciência infinita e iluminada e do corpo, em Corpo de Luz, infinito e iluminado.  Este Corpo de Luz advém de Li, o Fogo, a Consciência Iluminada, o Espírito.


O Vento recebe a Água,
formando Djin, O Poço

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___  ___          K’an, a Água, o Abismal, o Perigo, a Sabedoria, a Alma
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___  ___          Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, o Penetrante



O Tao da Água, K’an, é ser a Essência da Vida.  Sendo a Essência, possui a Sabedoria.  Em Ching, o Poço, o Tao de Sun, o Vento, a Raiz, a Madeira, é o de recolher esta Essência da Vida, esta Sabedoria, armazena-la e doá-la a todos os seres.

Lao Tse nos diz em seu Capítulo 13 do Tao Te Ching:

Nobre é aquele que entrega o corpo ao mundo
A este o mundo pode se entregar
Quem ama faz do mundo o seu corpo
Neste o mundo pode confiar.


Assim, Ching, o Poço, nos revela a imagem da sabedoria constante, que jorra sem cessar, que está sempre pronta a surgir - assim como a água - desde que a corda do balde que irá buscar essa água, essa sabedoria, não se parta, desde que o poço não seque ou vire lama.  Ou seja, desde que o homem superior mantenha dentro de si sua consciência plena, rumo ao seu Tao.

Quando o Poço, Ching, não serve mais em suas águas para ser usado, é preciso que seja recuperado.  Esta recuperação se dá de baixo para cima, e isso é demonstrado através cada uma das Seis Linhas do Hexagrama, que atuam como tijolos formando anéis, um sobre o outro.  De anel em anel, de Linha a Linha, o Poço vai sendo restaurado até que todas as Linhas sejam realizadas, até que a água do Poço volte novamente a servir a todos os seres.  As Linhas Quinta e Sexta, as Linhas do Rei e do Sábio, são aquelas que apresentam o Poço inteiramente recuperado, podendo suas águas serem retiradas por todos: a sede tanto da Água objetiva quanto da Água subjetiva, a Água da Terra e a Água do Céu, a Sabedoria da Terra e a Sabedoria do Céu, será saciada.

Quando o homem está em processo de realização de seu Caminho da Iluminação e da Imortalidade, ele pode ser representado como um Poço: seu corpo físico é o próprio Poço que estará sofrendo as mutações da mente em consciência infinita e iluminada e do corpo, em Corpo de Luz, infinito e iluminado.  Esta Vida infinita e iluminada advém de K’an, a Água, a Sabedoria.

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A realidade intrínseca no Poço e no Caldeirão é que ambos possuem o Vazio - assim como o Homem Sagrado.  Sendo assim, podem todos sempre estar doando a vida e o alimento de maneira infinita e iluminada.

Doação de Água e doação de Alimento: a Vida agradece - assim são O Poço, Ching, e O Caldeirão, Ting - em sentido da Terra e em sentido do Céu.

Vemos, portanto, que o Fogo, Li, a Lucidez, a Consciência encontra-se em sua plenitude e que a Água, K’an, a Sabedoria, o Abismal, encontra-se em sua plenitude.  Ambos tornam-se a Consciência Iluminada e a Vida Iluminada - porque são os herdeiros diretos de Ch'ien, a Luz do Criativo e de K'un, a Não-Luz do Receptivo.

Assim, quando o Caldeirão está inteiramente recuperado bem como o Poço, o Homem Sagrado pode realizar em si mesmo a Iluminação infinita e a Vida infinita - pois que todos os passos em seu Caminho Espiritual, em seu Trabalho Espiritual, já foram realizados.



As Rodas do Moinho

Outras questões fazem parte também das etapas da meditação e podem ser reconhecidas como deveras importantes para a realização do Caminho: em dado momento, já quando alcançamos e conservamos a Fixação, nosso corpo recebe ondas de energias intensas que são denominas de "Rodas do Moinho".

Essas Rodas do Moinho se apresentam durante um certo tempo em nossas meditações – e se elas se apresentam é porque estamos no bom caminho de aprofundamento da meditação – e servem para energizar todo o corpo físico e etérico, chacoalhando mesmo de tal forma o Caminhante que medita, que a pessoa deve fazer um enorme esforço para não se desviar da Fixação e deixar que essas Rodas do Moinho façam seu trabalho de limpeza interior e exterior.

Então, existe o retorno da calma, da tranqüilidade do corpo físico e da mente. Nessa etapa da meditação, o Caminhante já se encontra pronto para espelhar o Céu na Terra.

Este momento voltado para as Rodas do Moinho, dentro do Processo de Meditação, pode ser imajado por Chen, o Trovão, o Incitar, a Comoção.  As Rodas do Moinho podem ser imajadas através o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu, em Chen, o Trovão, a Comoção, o Incitar, Repetido.

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No entanto, esse trabalho realizado por Chen, o Trovão, acontece de forma inteiramente interiorizada.  Sendo assim, podemos considerar o Hexagrama Ken, a Montanha, a Quietude Repetida, como a imagem mais próxima da Roda do Moinho - no sentido de que o Caminhante terá que conservar a Quietude, a Imobilidade extrema - em sua Fixação - de forma que as Rodas do Moinho possam se realizar seus trabalhos ao longo do corpo físico e esta tarefa é uma ação de Chen, o Trovão, e de K’an, a Água, atuando enquanto Trigramas Nucleares dentro de Ken, A Montanha Repetida:

A Montanha recebe a Montanha,
formando Ken, A Quietude, A Imobilidade

Depois de ter se encontrado com sua Mãe, concretizando a materialização do Planeta, a Montanha, dentro do Trigrama da Terra, em sua Quietude, acolhe a si mesma, Ken, A Montanha, para se situar dentro do Trigrama do Céu e oferecer ao mundo a imagem do Mestre sentado em seu silêncio, em meditação, em sua interiorização plena tanto em seu mundo interior quanto em seu mundo exterior.  A meta da vida humana é fusionar-se ao Tao. É formando então o Hexagrama Ken, A Quietude, O Mestre:

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___  ___          Trigrama do Céu em Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre


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___  ___          Trigrama da Terra em Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre



A Montanha repetida apresenta o Mestre absolutamente interiorizado em sua meditação, dentro do Trigrama Interior, sem ser visto pelo mundo; e apresenta o Mestre absolutamente interiorizado em sua meditação, dentro do Trigrama Exterior, mostrando ao mundo seu exemplo.  O Mestre é aquele que atua através do próprio exemplo.

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 16 do Tao Te Ching:

Alcançando o extremo vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude

Em Ken, a Montanha repetida,   o Trigrama do Céu é o Mestre que é contemplado pelo universo.  O Trigrama da Terra é o Mestre em sua interiorização plena, sentado em seu silêncio, contemplando todo o universo através de seu Vazio.  Podemos também entender que o Mestre encontra-se no Trigrama do Céu, exteriorizado, enquanto seus Discípulos encontram no Trigrama da Terra, sendo encaminhados pelo Mestre.

O Trigrama da Terra revela-se nos estágios iniciais no Trabalho Espiritual e de Meditação.  O Trigrama do Céu revela-se nos estágios mais avançados.  E as Linhas, ao longo de suas ascensões no Hexagrama Ken, A Montanha repetida, vão nos revelando o Caminho do Caminhante, os degraus galgados pelo homem superior que se senta em seu silêncio e penetra no Vazio.

Por estas razões, a Linha Governante do Hexagrama Ken, a Montanha Repetida, a Quietude, o Mestre, é a Sexta Linha, a Linha do Sábio, o Lugar do Céu no Trigrama do Céu, o lugar da entrada no Vazio, o lugar da retirada desta Linha para atuar enquanto Primeira Linha de um novo Hexagrama, após sete etapas concluídas.

O Mestre que vemos em Ken, a Montanha, é aquele que conseguiu - apesar de pertencer ao Mundo da Manifestação - adentrar o Portal que o leva ao Mundo da Não-Manifestação.  

E, ao longo de sua longa jornada em sua Meditação Profunda, teve que enfrentar movimentações intensas dentro si, algumas, inclusive, que lhe traziam algum Perigo: tudo isso pode ser compreendido através os Trigramas Nucleares inseridos em Ken, a Montanha: Chen, o Trovão, o Incitar, a Comoção, com seu movimento ascendente intenso, e K’an, a Água, o Perigo, com seu movimento descendente.

Quando o Mestre já realizou a fusão entre o Sopro e a Consciência, adentram em seu corpo as chamadas Rodas do Moinho, que movimentam todo seu corpo, fazendo o corpo vibrar intensamente, em redemoinhos intensos que vão Liberando todas as energias que não estão de acordo com o movimento ascensional de ampliação da consciência do Mestre e sua entrada no Vazio: tudo isso pode ser visto através o Hexagrama Nuclear inserido, Chen, o Trovão, sobre K’an, a Água, em Hsieh, Liberação.  Chen, o Trovão, torna-se o Novo Começo, o Retorno da Luz, enquanto K’an, a Água, torna-se a Sabedoria.



 

O Êxtase Espiritual – Samadhi

É o momento da Iluminação que leva imediatamente ao Vazio.

O Caminho é o Vazio

nos diz Lao Tsé em seu Capítulo 4 do Tao Te Ching.  Assim é o Tao.

Assim, o verdadeiro êxtase espiritual – Samadhi – se dá não exatamente através da Luz intensa que o praticante espiritual se sente banhado.... Essa Luz pode ser percebida como o Sublime Yang abençoando o Caminhante!

No entanto, após ter sido banhado por esta Luz tão intensa e divina, o Caminhante penetra na Não-Luz – percebida como o Sublime Yin – e somente então, penetra no verdadeiro Vazio!

É´ dentro do Vazio, que o Caminhante se fusiona à Paramapurusa, ao Tao da Criação, à Mente Cósmica. É´ dentro do Vazio que não se sente absolutamente nada, aonde o Nada e o Tudo se mesclam, é um lugar para além do além, sobre o sentimento que não se pode falar porque nem se saberia como...

Assim é o Tao e esse é o verdadeiro Êxtase Espiritual.

No entanto, Lao Tsé nos afirma em seu Capítulo 40:
O Retorno é o movimento do Caminho

Dessa forma, tão logo acontece o verdadeiro êxtase espiritual, novamente surge a Luz!

Uma vez mais o Caminhante é abraçado e abençoado pelo Sublime Yang que o faz retornar à sua consciência planetária, desta vez extremamente expandida e iluminada e infinitizada em função da fusão da verdadeira Luz com a verdadeira Não-Luz, o verdadeiro Tai Chi – a plenitude do Mundo da Manifestação.

E Através do Portal do Revirão, o Mundo da Manifestação fusiona-se ao Wu Chi, o Mundo da Não-Manifestação.


Todo o processo que vai do Vazio da Não-Luz, em K'un, a Terra, até a Plenitude da Luz, em Ch'ien, o Céu, cabe dentro do Caminho do Céu


K'un, A Mãe          Ch'ien, O Pai
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___  ___                     _______
___  ___      os Filhos      _______



O Caminho da Terra, que vai da Plenitude da Luz, em Ch'ien, o Céu, até o Vazio da Não-Luz, em K'un, a Terra.

Ch'ien, o Pai                  K'un, a Mãe

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_______      Os Filhos      ___  ___



 

Meditação: do Vazio à Luz  e ao Retorno ao Vazio

O quase-ápice da meditação, seu quase-momento de êxtase absoluto, Samadhi, é assim como uma semente – o Vazio - que, em seu momento de naturalidade sob o Tao, explode em vida e em luz radiantes...  Essa Luz é assim como se olhássemos o Sol, nossa mais próxima estrela, com nossos olhos desnudados, recém saídos da escuridão da Não-Luz que prenunciou a semente do Vazio.  Porém, ó Caminhante, sabemos que não devemos olhar diretamente para o Sol sob pena de cegarmos nossa visão...   No entanto, por uma fração mínima ou máxima de um tempo e espaço da Criação, estivemos envolvidos pela Grande Luz do Tao da Criação..., assim como se também estivéssemos nos lembrando do momento exato da Grande Explosão que fez nascer nosso universo, a partir da semente do Vazio.

A semente do Vazio é, sabemos todos, plenamente preenchida pela Luz e Não-Luz do Tao da Criação.  Assim, o quase-momento de êxtase absoluto, Samadhi, na meditação, faz acontecer toda a vida do nosso universo sendo vivenciada em nossa mente, em tempo e espaço, como se fosse um raio que surge, inesperadamente, cortando o firmamento, e que, num piscar de olhos, desaparece... sem antes deixar impressa em nossa mente sua Luz, porém.


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Irromper, Kuai, Lago sobre Céu, anuncia a última Linha Yin a deixar o Hexagrama: é o último resquício da Não-Luz, do Vazio que está longe...  A Alegria é esfuziante diante de eminente aproximação da Plenitude do Sublime Yang!


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Ch'ien,o Céu, o Criativo, Céu sobre Céu, apresenta todas suas Linhas Yang, O Criativo, a Luz em todo seu esplendor.  É neste momento que se pode alcançar o Portal entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação.
Neste momento, o Sol faz uma parada e retorna, é o ponto final do Oito do Revirão do Sublime Yang.

O retorno é o movimento do Caminho - assim nos diz Lao Tse, em seu Capítulo 40 do Tao Te Ching.



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Kou, Vir ao Encontro, Céu sobre Vento, já traz o retorno de uma única Linha Yin, a Primeira Linha, já anunciando o fato inexorável que a Plenitude da Luz alcançou seu auge, seu apogeu, e por esta mesma razão, deverá dar início à sua transmutação, em busca de Não-Luz, a partida inicial para o Vazio.


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Po, Desintegração, a Fuga da Luz, Montanha sobre Terra, , anuncia a última Linha Yang ainda a fazer parte do Hexagrama: a Luz do Sublime Yang está deixando seu lugar para ser ocupado pela Linha Yin e por todas demais Linhas Yin que tomarão total conta do Hexagrama, trazendo a Não-Luz do Vazio.



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Este é o tempo da Não-Luz em sua plenitude, em sua supremacia, em sua soberania, em todas suas Linhas Yin: K'un, a Terra, O Receptivo - Terra sobre Terra.  A Não-Luz é a plenitude do Vazio.  É neste momento que se pode alcançar o Portal entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação: O Caminho é o Vazio, nos diz Lao Tse em seu Capítulo 4 do Tao Te Ching.
Neste momento, o Sol faz uma parada e retorna, é o ponto final do Oito do Revirão do Sublime Yin.

O retorno é o movimento do Caminho - assim nos diz Lao Tse, em seu Capítulo 40 do Tao Te Ching.



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No momento em que o Vazio, a Não-Luz, as Seis Linhas do Sublime Yin alcançam seu auge, seu apogeu, tudo tem que ser transmutado e assim, entra em cena, na Primeira Linha do Hexagrama, a Linha Yang anunciando o Retorno da Luz, em Fu, o Retorno, Terra sobre Trovão!


Podemos dizer que toda a vida do universo que pertencemos acontece, desde sua explosão de luz até seu vazio de plenitude de não-luz, durante o tempo e o espaço desse quase ápice, quase-êxtase, quase Samadhi...  Não podemos nos esquecer, porém, que estamos falando da Criação, do Mundo da Manifestação...

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Tui, o Lago, a Flor de Lótus                 Ken, a Montanha, o Mestre
Quase Luz                                           Quase Não-Luz

A Flor de Lótus é a imagem do Samadhi, do Êxtase que se instala no Chacra da Coroa - ao alto da cabeça - do Camnhante.

O verdadeiro ápice da meditação, seu momento de êxtase sublime, Samadhi, acontece realmente dentro do Vazio. Não podemos nos esquecer que o Vazio é o Tao – e que sobre o Tao não podemos e não temos como nos expressar... somente que este Vazio está para ainda além do Mundo da Não-Manifestação...


O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota

Lao Tse, Tao Te Ching, Capítulo 4

 

O Elixir da Vida

É preciso saber conservar a Fixação mais e mais, cada vez mais tempo, para que seja formado o Elixir da Vida, uma energia vivente e objetivada, de total fusão entre o Espírito e o Sopro Primordial, a Alma, o começo de tudo e o fim de tudo, o Tao da Criação, o Elixir da Vida, a verdadeira essência da Vida.

Voltando ao exemplo da Terra, Planeta de Trabalho e de Iluminação, ser formada por fogo e água e materializada de tal maneira a poder receber a Vida em si mesma..., é assim que acontece entre a fusão do Espírito e o Sopro Primordial, trazendo a Fixação: Somos a própria Terra! E a Vida que passa a acontecer em nós e que nos torna co-autores da Criação pode, então, ser compreendida como o Elixir da Vida!

Dentro da Fixação e banhado pelo Elixir da Vida, o homem tem seu momento de Êxtase Espiritual, Samadhi, o motivo pelo qual o Caminhante Caminha seu Caminho, o encontro com seu Tao interior.

Todos esses passos, todo esse caminho de prática espiritual é verdadeiramente longo!

Lao Tsé nos diz em seu Capítulo 64 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude:

Uma viagem de mil léguas começa com o primeiro passo.

Com isso, podemos entender que esse primeiro momento de prática espiritual na meditação nos toma um grande número de anos em nossa vida! Até podermos alcançar a Fixação e a mantermos bem segura quando meditamos, propiciando assim, a criação e existência do Elixir da Vida, certamente muito, muito tempo se passou! E dessa forma, é possível que saiamos da encarnação ou antes ou depois de termos adquirido e nos conscientizado acerca da Vida infinita que existe potencialmente dentro de nós, advinda do Elixir da Vida.

No entanto, o Elixir da Vida já nos proporciona o alcance do Caminho da Iluminação, nos trazendo mente e consciência iluminadas e infinitas. Assim, em um novo nascimento, o Espírito e a Alma já estarão de tal forma bem fusionados, que o ser, através de seu ego e de seu corpo – e certamente da boa preservação do Elixir da Vida e da consciência iluminada e infinita – pode dar prosseguimento ao seu trabalho espiritual, traçando, então, seu Caminho de Liberação ou Imortalidade.

O Elixir da Vida é como a essência que se extrai da fusão do Espírito do Tao e da Unidade Absoluta da Criação – Shiva – com a Alma que faz parte da coletividade da Criação – Jiiva. O Elixir da Vida é a essência fundamental, o cerne da Criação. Quando conseguimos alcançar o Elixir da Vida, nos tornamos co-autores da Criação... porque podemos criar a vida dentro de nós a partir da Luz contida no Elixir da Vida.

De uma forma geral, os Mestres já nascem com a consciência iluminada e infinita e seu Elixir da Vida preservado. Os mestres (com m minúsculo) são aqueles que ainda nesta vida do aqui-e-agora estão trilhando seu Caminho da Iluminação e sua busca do Elixir da Vida.

Em sendo o Elixir da Vida algo que vai sendo formado objetivamente - a partir de seu conceito subjetivado - penso que pode ser imajado através os Trigramas que revelam a Luz: a Luz de Ch'ien, o Pai, o Criativo, e a Luz de Li, o Fogo, o Aderir, a Consciência, a Lucidez.


O Céu recebe o Fogo,
formando Ta Yio, A Grande Conquista, Grandes Posses

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_______          Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Pai, a Luz



Li, o Fogo, o Sol, a Lucidez, a Consciência, o Aderir, encontra-se no Trigrama do Céu, Trigrama Exterior, apresentando ao Mundo sua Luz herdada de seu Pai, Ch'ien, o Céu, o Criativo, que a sustenta através seu posicionamento no Trigrama da Terra, Trigrama Interior.

A Luz expressa por Li, o Fogo, a Consciência, o Aderir, faz parte da Duração.  A Luz expressa por Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Pai, faz parte da Constância.  No entanto, existe uma inversão de posicionamentos nos Trigramas, fazendo com que Li, o Fogo, possa aliar a Duração com a Constância do Trigrama do Céu; e Ch'ien, o Céu, possa aliar a Constância com a Duração do Trigrama da Terra.

Sendo assim, existe imensa força ascendente e plena de Luz, no Interior, e existe imensa força ascendente e plena de Luz, no Exterior: são as Grandes Posses, é a Grande Conquista.  É a Conquista das questões da Terra e das questões do Céu.  São as Grandes Posses das questões da Terra e das questões do Céu.

Todas as Linhas do Hexagrama são Yang e plenas de Luz, com exceção da Quinta Linha, a Linha do Rei, aquele que possui a consciência iluminada, em Li, o Fogo, a Lucidez, a Consciência.  Em sendo Yin, esta Linha conserva sua majestade terrena, sim, porém tem como ideal maior seu seguimento no Caminho rumo ao seu Tao, porque possui as Virtudes da Humildade, do Vazio, da Verdade Interior - tudo isso através sua Consciência Infinita e Iluminada, com o único desejo do Não-Desejo, com a única ação da Não-Ação.

Lao Tse, no Capítulo 9 do Tao Te Ching, nos diz:

O que é mantido cheio não permanece até o fim
O que é intencionalmente polido não é um tesouro eterno

Uma sala cheia de ouro e jade é difícil de ser guardada

Riqueza e nobreza somadas à arrogância
Fazem restar para si sua própria culpa

Concluir o nome, terminar a obra,
Retirar o corpo - este é o Caminho do Céu.


 


Do Vazio à Luz:
 Os Passos no Caminho da Meditação sendo realizados através as Virtudes de cada um dos Seis Filhos do Céu e da Terra - nas partes em fonte azul,Texto Extraído de O Caminhante Caminhando seu Caminho - livro de Janine Milward © 2007


 



Bibliografia e Créditos

Tao Te Ching
O Livro do Caminho e da Virtude
Lao Tsé
Tradução Wu Jyh Cherng
Editora Ursa Maior, Brasil - Hoje encontrado através da Editora Mauad, Brasil

As interpretações dos poemas do Tao Te Ching são realizadas pela autora, a partir da tradução de Cherng bem como baseada em seus ensinamentos e comentários.  A autora transcreveu as aulas de Cherng a respeito dos primeiros 40 Capítulos do Livro do Caminho e da Virtude.  Também ao longo do trabalho são inseridos conceitos e ensinamentos apreendidos através a transcrição e síntese realizadas pela autora a partir das aulas ministradas por Wu Jyh Cherng sobre a Alquimia Taoísta e Meditação, incrustadas em suas interpretações dos poemas de Lao Tsé – 1994/5/6.

-   Foto do “Anel de Diamante” realizada  por Jeff R. Schroeder ao final do eclipse total do sol em 11 de agosto de 1999, em Harput, Turquia.  Publicada na revista Sky & Telescope, edição de outubro de 2000, página 97, na Seção “Amateur Events”.  – Sky & Publishing Co., Ma., USA.

Foto do Analema ou Oito do Revirão do Sol
Realizada por John Raffell combinando 52 exposições individuais, perto do Trópico de Câncer (latitude 23 1/2 norte).  As fotos foram tiradas todos as semanas do ano a partir de maio de 2000, na mesma posição visando o leste, às 07:30 da manhã, em Muscat, Oman. Publicada na revista Sky&Telescope, edição de março de 2003, página 78, dentro do artigo "What is an Analemma? Assinado por Edwin L Aguirre. Esta revista é uma publicação de Sky&Telescope Publishing Co., Cambridge, MA, EUA.

Analemma  -  Fotografias do sol realizadas pelo astrofotógrafo Frank Zullo entre 9 de setembro de 1990 e 23 de agosto de 1991.  Foram feitas 37 exposições do sol em um único filme de 36 fotos, todas as fotos tiradas exatamente as 08:00 da manhã MST, mean solar time, ou seja,  porque a Terra gira em elipse em torno do sol e ainda existe a inclinação em seu eixo de 23 graus, essa hora pode, a nível astronômico, não ser o tempo constante.  Foi usada uma técnica simples de dupla exposição sobre o dial de um relógio de sol.
Foto publicada na Revista Astronomy,  edição de dezembro de 1997, sob o título “First Views: Old Sol Celebrates the Solstice” dentro da seção “The Sky Show”.  Kalmbach Publishing Co., U.S.A.

 
  Caro Leitor,
encontre os seguintes Temas em nosso próximo Capítulo:


Capítulo IX
Meditações (Ativas)
 de Fusão entre o Céu Anterior e o Céu Posterior
no I Ching, o Livro das Mutações

Dois Dedos de Prosa sobre Sincronicidade, Arquétipo, Símbolo 
O I Ching, o Livro das Mutações,
Algumas Palavras sobre Meditação Ativa:
Sobre as Meditações Ativas Propostas neste Trabalho,
Cosmologia Espiritual ou A Metafísica

O Dia e a Noite 
Meditação sobre o Céu Posterior
trazendo o posicionamento dos Oito Trigramas Primordiais

As Estações do Ano - I 
ou
Os Ciclos da Vida e da Não-Vida
Trazendo os posicionamento do Céu Posterior para os Oito Trigramas Primordiais

As Estações do Ano - II
Os Entrelaçamentos da Luz e da Não-Luz, os Sublimes Yang e Yin

O Eterno Retorno - O Revirão da Vida 
Trazendo os posicionamentos do Céu e da Terra, no Céu Anterior,
no aparente caminho do Sol, o Analema, o Oito do Sol

Os Quatro Pontos Cardeais
Meditação sobre o Céu Anterior
Trazendo o posicionamento de Céu e Terra, e de Fogo e Água, Sul e Norte, Leste e Oeste
O Leste é o lugar dos novos começos; o Sul é o lugar do amadurecimento pleno; o Oeste é o lugar da retirada, do repouso; o Norte é o lugar da sabedoria que se obtém já em outras dimensões.
Meditação sobre o Céu Posterior
Trazendo a reorientação do Fogo e da Água e introduzindo o Trovão e o Lago
bem como preservando o Céu e a Terra
E formando, assim, a Estrela de Seis Pontas
O homem e o Homem Sagrado e a Estrela de Seis Pontas



O Eclipse total do Sol -
O I Ching do Céu Anterior representado pelo processo do eclipse total do sol
Doce fusão entre Espírito e Alma, Li e K’an, Fogo e Água:
O Hexagrama Wei Chi, Antes da Conclusão
A Luz de Ch’ien, O Céu, e a Não-Luz de K’un, A Terra
O Casamento do Céu e da Terra:  O Hexagrama Tai, Paz
O instante imediatamente anterior e posterior
ao eclipse total do sol, o Anel de Diamante:
Hexagrama Po, Desintegração, A Fuga da Luz e Hexagrama Fu, O Retorno da Luz
A Iluminação

As Seis Linhas do Hexagrama e o Eclipse Total do Sol

A Família do Céu e da Terra 
Os Passos na Meditação e no Trabalho Espiritual

Do Vazio à Luz e ao Retorno da Não-Luz 
O I Ching do Céu Anterior representando pelo processo de criação de um universo a-vir-a-ser
A Semente Queimada e o Homem Sagrado, A Alquimia Taoísta


 COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward






O Fio da Meada







Sexta Linha      ___  ___               O
Quinta Linha         ___  ___          I Ching
Quarta Linha                ___  ___               do
Terceira Linha       _______          Caminho
Segunda Linha      _______               do
           Primeira Linha    _______              Céu





Janine Milward



Primeiro Volume


Conceitos Fundamentais sobre I Ching, 
o Livro das Mutações



Editora Estrela do Belém




O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada





Primeiro Volume


Conceitos Fundamentais sobre I Ching, o Livro das Mutações

Janine Milward